Como é a vida sem o SUS de quem vive nos EUA

Atualizado em 28 de outubro de 2020 às 17:00

Uma queda na escada de casa causou-lhe a fratura em uma das pernas. No hospital, foram feitos exames de imagem, imobilização com gesso, ministrados anti-inflamatórios e analgésicos. Dias depois, pelo correio, chegou uma continha de quase R$ 30 mil.

A experiência acima foi vivida por um amigo que reside nos Estados Unidos e precisou usar o sistema de saúde americano. Os custos são astronômicos. Três dias de internação podem ultrapassar os R$ 120 mil.

Ainda nas primeiras semanas de pandemia de Covid-19, ficou famoso o caso de um homem que foi fazer o teste e saiu com um boleto equivalente a R$ 14 mil.

Casos um pouco mais complexos que uma simples queda levam cidadãos a perderem casa, tudo. Vão à falência. Isso faz com que muitos americanos evitem ao máximo utilizar o sistema de saúde ou procurar um hospital, suportando dores e procrastinando tratamentos, o que é muitas vezes fatal.

É esse o cenário que podemos ter no Brasil em consequência do projeto bolsonarista de desmonte do SUS.

Ao contrário do que muitos pensam, existe sistema de saúde público nos EUA. Ele não é universal como o nosso SUS – ou seja, cada estado tem o seu e suas regras – mas há 3 sistemas de saúde exclusivamente públicos nos Estados Unidos:

O Medicare, que oferece atendimento médico para pessoas de 65 anos ou mais, e que tenham contribuído com o pagamento de impostos direcionados à saúde durante os anos de trabalho;

O Medicaid, voltado para americanos de qualquer idade em situação de vulnerabilidade e sem recursos financeiros (o que implica na novela burocrática de ter que comprovar a pobreza e nem sempre aceita);

E o Veterans Affairs, destinado aos veteranos de guerra.

Quem não se enquadra em nessas especificidades precisa contratar um plano de saúde privado. E os convênios, como se sabe, fazem de tudo para não proporcionarem cobertura total. O paciente sempre precisa arcar com uma parte.

Todo plano exige o pagamento de uma “franquia” que varia conforme a categoria, mas algo em média de R$ 7.000 ao ano, a serem pagos antes de o serviço começar a funcionar. Atenção: antes !

Depois disso existe ainda o co-seguro, uma taxa entre 10% a 40%, de cada tratamento realizado.

Em resumo, mesmo que o cidadão tenha a sorte de estar empregado e que a empresa tenha contratado plano de saúde para seus funcionários (algo não obrigatório por lá), nunca sai de graça para quem utiliza o sistema de saúde nos EUA.

Meu amigo citado como exemplo no início desse artigo é funcionário de uma empresa de comunicação. Possui um convênio médico privado. Ainda assim, do total de R$ 30 mil referentes a uma simples fratura de osso, R$ 1.200 precisaram sair de seu bolso. O tal co-seguro e mais alguns procedimentos não cobertos.

O decreto 10.530 assinado pelo monstruoso Bolsonaro abre as portas para privatização das UBS (Unidade Básica de Saúde) e colocará o Brasil no rumo da privatização quase total do sistema americano (senão total). Um sistema excludente e elitista.

O direito à saúde é previsto na nossa CF, e é dever do Estado prover a população. O projeto golpista passa pelo desmonte total do Estado, colocando nas mãos de gananciosos o tripé fundamental para o bem-estar e desenvolvimento do povo: saúde, educação e segurança pública.

Aliás, as únicas coisas que funcionam em Cuba, segundo um certo comentarista do programa Manhattan Connection. Tá “sértinho”.