Veloz, confortável, bonito — e feito, oficialmente, para cumprir missões muito diferentes de levar políticos para passear.
Você, que viaja de classe econômica cada vez mais na vertical, cada vez mais apertado, cada vez mais triste, iria adorar o jato em que costumam pegar “carona” alguns dos políticos do Brasil. Há dias, surgiram as notícias de que Renan Calheiros, presidente do Senado, e Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados, embarcaram num avião da FAB com destino a um casório e um jogo de futebol, respectivamente. Alves disse que vai reembolsar o erário. Renan se recusou a considerar essa hipótese.
O jato C-99, que serve à dupla, é moderno, confortável, veloz, relativamente econômico. Foi fabricado pela Embraer. A FAB tem oito deles operando.
Custa 23,5 milhões de dólares. Tem capacidade para 50 pessoas, dependendo da configuração interna. Não há serviço de bordo (a não ser em ocasiões especiais, como quando um deputado foi acusado de levar duas garotas de programa à guisa de aeromoças).
Chega a alcançar 833 quilômetros por hora. Os motores são duas turbinas Rolls Royce. O número de tripulantes é cinco.
De acordo com o site da Força Aérea Brasileira, ele realiza “transporte VIP e missões para o CAI (Correio Aéreo Internacional). Seu objetivo primário é o transporte entre o Brasil e as principais capitais da América do Sul, além de atender as necessidades das embaixadas”.
A descrição prossegue: “Existe também o interesse político-econômico em demonstrar a capacidade da indústria aeronáutica brasileira no exterior”.
Seja lá o que quer dizer esse “VIP”, numa entrevista para um site especializado em aviação o tenente coronel Ricardo Braga disse o seguinte: “Os destinos hoje mais voados são Brasília, Manaus, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo, porém são apenas algumas para citar aqui, por que o esquadrão é muito versátil e nós cumprimos qualquer missão que nós é passada.”
Num relatório, o C-99 é relacionado a missões como o Projeto Rondon, deslocamento de tropas, transporte de adidos estrangeiros, transporte de chefes de estado, além de ser a aeronave de reserva da presidência da república.
Renan e Alves não apenas deram seu rolê habitual. Eles fizeram isso porque a FAB virou a companhia aérea de gente como eles. Quem precisa de Gol, Tam ou Passaredo se tem a Força Aérea Brasileira à disposição para passear?
A versatilidade da FAB, como quer o tenente coronel, se transformou na capacidade de garantir que um sujeito como Renan Calheiros chegue a um casamento em Trancoso na hora certa. Sem fazer reserva, sem passar pela alfândega, sem pagar nada.