
Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo estão no centro de uma investigação que pode revelar um dos maiores esquemas de especulação financeira com uso de informação privilegiada já vistos no Brasil. O motivo: a suspeita de que ambos tenham tido acesso antecipado ao anúncio do tarifaço de Donald Trump contra produtos brasileiros e ajudado operadores do mercado a lucrar milhões apostando contra o real.
O caso está sob apuração do Supremo Tribunal Federal (STF), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, e envolve diretamente a atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, onde está radicado desde março. A Polícia Federal foi acionada, e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também foi instada pela Advocacia-Geral da União (AGU) a investigar o possível crime de insider trading.
A operação suspeita
Às 13h30 (horário de Nova York) do dia 9 de julho, uma operação bilionária de compra de dólares movimentou entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões ao câmbio de R$ 5,46. Três horas depois, às 16h17, Trump anunciou nas redes sociais uma tarifa de 50% contra o Brasil. Em seguida, a mesma posição em dólares foi vendida por R$ 5,60, um lucro imediato e preciso. Segundo Spencer Hakimian, gestor do fundo Tolou Capital, os ganhos variaram entre 40% e 50%.
O detalhe mais grave é o timing. A movimentação antecipada indica que alguém sabia exatamente o que seria anunciado — e quando. O próprio Hakimian declarou que esse tipo de operação só é possível com vazamento direto de autoridades com acesso à decisão. A AGU quer saber se Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo passaram essa informação para operadores financeiros.
Figueiredo avisou em live
No dia 17 de julho, Paulo Figueiredo comentou o tarifaço durante uma transmissão ao vivo. “Se eu atuasse no mercado financeiro, eu estaria simplesmente apavorado com a possibilidade de sanções econômicas dos Estados Unidos”, disse. Em tom de quem sabia o que estava por vir, repetiu duas vezes: “Eu tô avisando”.
Figueiredo também afirmou que “inúmeros empresários grandes” estavam “vindo conversar comigo e com Eduardo Bolsonaro”. A frase foi interpretada como um indício de que informações sobre as sanções estavam sendo compartilhadas antes de se tornarem públicas. O STF agora trata isso como possível indício de articulação para sabotar a economia brasileira e pressionar o Judiciário.
Ligação com sanções e pressão ao STF
Eduardo Bolsonaro tem dito nos Estados Unidos que atua diretamente para impor sanções ao Brasil e ao Supremo Tribunal Federal. Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, as ações dele nos EUA buscam desestabilizar as instituições brasileiras como forma de defesa do pai, Jair Bolsonaro.
A manobra ficou evidente no despacho que determinou o uso de tornozeleira eletrônica por Jair Bolsonaro, em que Moraes afirmou que o ex-presidente tenta “condicionar o fim da taxação/sanção à sua própria anistia”.

O advogado-geral da União substituto, Flávio José Roman, reforçou essa linha no pedido de investigação: “A implementação do aumento de tarifas tem como finalidade a criação de uma grave crise econômica no Brasil, para gerar uma pressão política e social no Poder Judiciário”.
Um padrão internacional
A operação contra o real não foi um caso isolado. O gestor Spencer Hakimian tem monitorado operações semelhantes envolvendo o anúncio de tarifas por Trump contra moedas de outros países. No caso da África do Sul, uma grande compra de dólares ocorreu minutos antes do anúncio de tarifas, seguida de venda logo depois da valorização. O mesmo padrão se repetiu com o euro, o dólar canadense e outras moedas.
Em todos os casos, as operações foram sincronizadas com os anúncios de Trump, levantando a suspeita de que informações estavam sendo vazadas com antecedência e usadas para enriquecer aliados.
Trump e os bilhões em um dia
O episódio mais escandaloso aconteceu no dia 9 de abril. Trump publicou uma mensagem dizendo “hoje é um bom dia para comprar” ações. Horas depois, anunciou uma pausa nas tarifas. O mercado reagiu com alta generalizada, e o lucro foi bilionário. Só as ações da Trump Media, empresa do próprio ex-presidente, subiram 22,67%, gerando para ele um ganho de US$ 415 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões).
E no Brasil?
Enquanto isso, o presidente da CVM, João Pedro Nascimento — indicado por Paulo Guedes e próximo do bolsonarismo — renunciou ao cargo no dia 18 de julho, pouco antes de a autarquia precisar investigar o caso.
Agora, cabe ao STF e à CVM desvendar se Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foram apenas transmissores de uma informação que receberam da Casa Branca ou se fizeram parte de uma engrenagem maior, pensada para gerar lucro e desestabilizar o Brasil.
O que está em jogo não é apenas a quebra das regras do mercado financeiro. É o uso da economia como arma política e mecanismo de chantagem contra o Estado brasileiro.