
O relatório final da Polícia Federal divulgado nesta quarta-feira (20) aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro movimentaram mais de R$ 2 milhões em transferências fracionadas, com o objetivo de evitar alertas em sistemas de controle financeiro.
Segundo os investigadores, os repasses foram feitos de forma reiterada e em valores menores que o limite legal que aciona automaticamente os mecanismos de monitoramento bancário. A estratégia teria começado no início de 2025 e foi usada para mascarar a origem e o destino do dinheiro.
A PF pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo bancário de pai e filho e também acionou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para obter informações detalhadas das movimentações.
De acordo com o relatório, Bolsonaro realizou seis transferências no início do ano que totalizaram R$ 111 mil para Eduardo, que está nos Estados Unidos desde janeiro. Já em 13 de maio, o ex-presidente enviou, de forma classificada como “atípica”, R$ 2 milhões ao filho — valor que ele mesmo havia admitido publicamente em entrevista.
“Vocês sabem que lá atrás eu não fiz campanha, mas foram depositados na minha conta R$ 17 milhões. Eu botei R$ 2 milhões na conta dele (Eduardo Bolsonaro). Lá fora, tudo é mais caro, e eu tenho dois netos, de 4 anos e de 1 ano de idade. Ele está lá fora, e eu não quero que passe… pic.twitter.com/qLvqwftca3
— GloboNews (@GloboNews) June 5, 2025
As apurações também identificaram que Bolsonaro realizou câmbio de R$ 105 mil em dólares, apesar de estar proibido de sair do país. Durante busca e apreensão em sua residência, em 18 de julho, a PF encontrou US$ 13.400 em espécie, divididos entre um quarto e o escritório da casa.

Para a PF, a disposição das cédulas e o volume das transações em dinheiro vivo reforçam a suspeita de que os valores pertenciam diretamente a Bolsonaro. O relatório afirma que esse padrão de movimentação dificulta a rastreabilidade e pode estar ligado a atividades ilícitas.
Os investigadores concluíram que Bolsonaro atuou deliberadamente para se desfazer de recursos ao longo de 2025, intensificando as operações nos meses em que Eduardo passou a atuar com maior frequência no exterior. Parte das transferências foi feita por meio das contas das esposas de ambos, como forma de ocultar a verdadeira origem do dinheiro.
Segundo a Polícia Federal, pai e filho utilizaram artifícios para dissimular a movimentação financeira e sustentar as atividades de Eduardo fora do país. Ambos foram indiciados sob acusação de obstruir a investigação que apura a tentativa de golpe de Estado, em que Bolsonaro figura como principal réu.