Como entender o drama sexual de DSK

Atualizado em 21 de fevereiro de 2012 às 14:19
DSK

 

DSK, Dominique Strauss-Kahn, deveria estar fazendo planos para sua administração como presidente da França. Carismático, brilhante, com todos os holofotes em sua charmosa cabeleira branca na condição de chefe do FMI, ele, como candidado do Partido Socialista, teria pela frente o desgastado Nicolas Sarkozy. Nas pesquisas, DSK estava praticamente já instalado no Palácio de Champs Elysèe.

Mas, no “perpétuo vai-e-vém de elevações e quedas”, para usar a grande frase de Sêneca, eis que a realidade de DSK está mais para cadeia do que para palácio.

Ele foi preso ontem, pela segunda vez em pouco tempo, agora na sua França natal. A polícia quer investigar qual seu grau de envolvimento com uma rede de prostituição desbaratada. Entre os franceses, pagar os serviços de uma marafona – como dizia minha avó Cotinha – não é crime. Mas explorá-la comercialmente, sim.

A rede promovia orgias. Existe também a suspeita de que o dinheiro dado a elas vinha de uma construtora francesa, não dos clientes. Várias prostitutas disseram que fizeram sexo com DSK. Ele alega que não sabia que elas eram profissionais, mas quem acredita nisso, para lembrar Wellington, acredita em tudo. A defesa de um de seus advogados é tragicômica: “Quem consegue distinguir entre mulheres nuas quem é prostituta e quem não é?”

É portanto a segunda vez que o sexo coloca DSK na cadeia. Na primeira, em Nova York, ele escapou por pouco de enfrentar uma longa temporada nas grades. Sua sorte foi que a camareira que o acusou de estupro perdeu a credibilidade depois de cair em contradição.

Mais que vítima de seu impulso libidinoso, notável aliás sob certo aspecto num sexagenário, DSK paga o preço do neomoralismo intolerante que o pensamento politicamente correto trouxe ao sexo.

DSK, como Silvio Berlusconi, é de uma era em que era aceito, quase estimulado, que homens de meia idade satisfizessem seu apetite sexual com mulheres jovens, quase sempre pagas. Para as esposas, era frequentemente um alívio não ter mais que se engalfinhar com maridos que extraíam disso prazer, sem dá-lo em troca.

A mulher de DSK, uma velha estrela da tevê francesa, é, também ela, deste tempo.

Não surpreende que ela o apoie.

O drama de DSK é que só ela parece compreendê-lo, num mundo que se tornou hostil, perigoso e frequentemente injusto para homens como ele.