Como etanol pode turbinar relação entre Brasil e EUA pelo fim do tarifaço

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 9:46
Lula, presidente do Brasil, e Trump, dos EUA. Foto: reprodução

A reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, trouxe um novo fôlego às relações comerciais entre os dois países, de acordo com a avaliação de empresários ouvidos pelo jornal O Globo. O encontro, realizado na quinta-feira (16) em Washington, reacendeu expectativas de avanços em áreas como energia, biocombustíveis e mineração, especialmente diante das negociações sobre tarifas e acordos bilaterais.

Um dos temas que mais animam o setor é a possível redução do imposto cobrado pelo Brasil sobre o etanol anidro importado dos Estados Unidos, atualmente em 18%. O etanol estadunidense, produzido a partir do milho, enfrenta uma tarifa quase sete vezes maior que a aplicada pelos Estados Unidos sobre o produto brasileiro, feito à base de cana-de-açúcar, que paga apenas 2,5%.

“O que Trump alega é que o Brasil tem tarifa mais alta para o etanol americano. Essa seria a reclamação de mais fácil resolução, porque pode-se fazer uma regulação de cotas de importação a uma tarifa mais baixa via Câmara de Comércio Exterior”, explicou Leandro Barcelos, sócio da consultoria 7IBS. Ele acrescentou que o etanol brasileiro é mais barato e menos poluente, o que o torna competitivo mesmo com as barreiras tarifárias.

De acordo com fontes que acompanham as tratativas, a redução da tarifa sobre o etanol seria um gesto diplomático relativamente simples e de forte impacto político, capaz de sinalizar boa vontade nas negociações pós-tarifaço — o pacote de 50% de sobretaxa imposto por Donald Trump a exportações brasileiras em julho.

“O Brasil já importa volumes significativos de etanol americano em períodos de escassez interna. Um ajuste técnico nas cotas poderia resolver parte da disputa comercial e abrir espaço para um diálogo mais amplo”, avaliou um representante do setor de biocombustíveis.

Mauro Vieira conversa com Marco Rubio nos Estados Unidos. Foto: Embaixada do Brasil

Outro tema que ganhou destaque nas conversas é o interesse dos Estados Unidos em estabelecer um acordo para garantir o fornecimento de minerais estratégicos, como lítio, nióbio e terras-raras, essenciais para tecnologias de transição energética, como baterias elétricas, turbinas eólicas e telas de LED.

Atualmente, empresas estadunidenses podem investir na exploração mineral no Brasil, mas sem tratamento preferencial. “Os Estados Unidos querem um acordo que assegure fornecimento firme, se não preferencial, desses minerais críticos”, explicou um executivo ligado ao setor de mineração ao Globo.

Entre as propostas em discussão está a criação de um acordo setorial específico para a mineração, nos moldes do firmado entre os Estados Unidos e o Japão em setembro, que eliminou tarifas sobre minerais críticos. No Brasil, a exportação desses produtos é taxada em média em 15%, segundo Barcelos.

O modelo, avaliam empresários, seria uma forma de fortalecer a cooperação bilateral e reduzir a dependência chinesa nas cadeias de energia limpa — um dos pontos centrais da agenda econômica de Trump.

Para o Itamaraty, a aproximação comercial com Washington representa uma chance de reposicionar o Brasil como parceiro estratégico na transição energética global. Embora ainda não haja anúncios concretos, interlocutores do governo afirmam que as tratativas podem resultar em acordos de médio prazo, caso a Casa Branca sinalize abertura para rever o tarifaço e flexibilizar as restrições às exportações brasileiras.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.