Como evitar os embustes neoliberais nestas eleições. Por Almir Felitte

Atualizado em 19 de setembro de 2020 às 7:32
Urna

Originalmente publicado por OUTRAS PALAVRAS

Por Almir Felitte

Nas últimas eleições, ficou claro que não foi só a extrema-direita que surfou no discurso da antipolítica no Brasil. Com um projeto econômico desgastado pelas seguidas crises e pelas propostas que não sugerem mais nada além de ataques aos direitos da classe trabalhadora, alguns liberais resolveram esconder seus verdadeiros propósitos e apostarem suas fichas no falso discurso de negação à política, apresentando-se como uma novidade que, de novo, nunca teve nada.

Infelizmente, parte destas figuras acabou se infiltrando em partidos dentro do próprio campo das esquerdas. Casos como o de Tabata Amaral (PDT) e de Felipe Rigoni (PSB) se tornaram emblemáticos, principalmente após a votação favorável destes à Reforma da Previdência, entre outras reformas liberais, mesmo a contragosto de seus próprios partidos, gerando repúdio e sensação de traição entre seus eleitores.

Para evitar que fenômenos como esse cresçam e se repitam nas eleições municipais deste ano, nesta coluna, apresento cinco dicas para avaliarem seus votos antes de acabarem caindo em mais uma dessas armadilhas liberais que podem se voltar contra você após vencerem nas urnas:

1. Busque sempre a opinião de seus candidatos sobre temas tidos como polêmicos ou controversos, principalmente sobre aqueles mais centrais em questões econômicas. Nas últimas eleições, por exemplo, alguns destes candidatos desviavam de temas como a Reforma da Previdência quando perguntados, mas, quando a votação da proposta no Congresso se aproximava, seus discursos mudaram radicalmente, e eles acabaram dando seus votos favoráveis a este ataque aos trabalhadores. Nessas eleições municipais, veja bem o que seus candidatos dizem sobre políticas de austeridade, cortes nos serviços públicos e sobre os servidores. Caso se esquivem das perguntas, desconfie.

2. Definitivamente, não dê seu voto para quem participa de certos “movimentos de renovação política”. Grupos como o RenovaBR, o Acredito e o Agora não passam de think tanks liberais com muita grana do alto empresariado que só atendem aos interesses de seus investidores. Não há muito o que discutir aqui, grupos liberais não financiariam candidatos que pudessem agir contra seus interesses. Se não quiser eleger liberais, simplesmente não vote em quem anda ao lado de gente como Luciano Huck ou Jorge Paulo Lemann.

3. Nas eleições, todo candidato tem que publicar doações e gastos eleitorais no site DivulgaCand. Analise bem os nomes dos doadores dos seus candidatos e as quantias. As doações empresariais foram proibidas, mas, em muitos casos, apenas se trocou o CNPJ pelo CPF. Desconfie se o seu escolhido tem polpudas doações de nomes do empresariado, principalmente de nomes ligados aos “grupos de renovação” citados acima. Aqui, continua aquela velha máxima de que “quem paga a banda escolhe a música”.

4. Cuidado com candidatos que escondem o nome do partido nas imagens e postagens das redes sociais. Quem esconde o próprio partido ou é candidato de si mesmo ou está em um partido que não merece seu voto. Não se espante se, depois de eleita, essa pessoa for contra as recomendações do próprio partido. Lembre-se sempre que a política é uma construção coletiva.

5. Muito cuidado com quem se diz técnico. É tática comum de liberais chamarem de técnicas teorias absurdas que já foram amplamente rechaçadas pelas Ciências Humanas e que já se provaram fraudes na realidade, só para validar seus objetivos de austeridade, privataria e desmonte do Estado Social. Não caia em nomes chiques como supply-side economics nem em grandes organizações como o “Todos Pela Educação”, pois, muitas vezes, figuras como essas apenas escondem, por trás do que chamam de técnica, estudos fajutos e cheios de distorções para maquiarem interesses privados. A Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista e o Teto de Gastos foram exemplos claros de como o “discurso técnico liberal” nada tinha de técnico, apenas afundando ainda mais a economia brasileira. A técnica não anda sozinha, ela sempre responde a um objetivo político, e é este objetivo que você deve tentar descobrir qual é.