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Como se basear em fatos reais para fazer ficção: “Argo”

O principal ganhador do Globo de Ouro é um thriller de espionagem sem um tiro

 

 

O grande vencedor do Globo de Ouro 2013 foi Ben Affleck, que levou os prêmios de melhor diretor e melhor drama. Affleck, que já era um favorito ao Oscar, teve um upgrade em sua cotação. Segundo o crítico Roger Ebert, é batata. Argo é um thriller inteligente que ajuda o espectador a entender o que acontece hoje na relação entre Estados Unidos e Irã. Isso sem disparar um tiro.

Em novembro de 1979, com a revolução iraniana a todo vapor, militantes invadiram a embaixada dos EUA e fizeram reféns 52 pessoas. Seis deles conseguiram fugir e foram asilados na casa do embaixador canadense. Enquanto a polícia tenta encontrá-los, o agente Tony Mendez (Afleck) é enviado para resgatá-los. Seu plano é absurdo: os fugitivos seriam, na verdade, atores de um filme de ficção científica (Argo).

 

Affleck no Globo de Ouro

 

O filme é “baseado em fatos reais”. O que, a rigor, significa apenas que um fato relativamente parecido com aquele aconteceu naquele país, naquele período. Isso não quer dizer, porém, que ele triturou a realidade para ganhar dinheiro na bilheteria ou para adaptá-la a sua agenda política. Argo é cinemão e, sim, a CIA sai bonita da parada. Mas o diretor toma alguns cuidados fundamentais: uma animação no início explica o que aconteceu no Irã em 1953, quando o primeiro ministro Mohammad Mossadegh foi apeado do poder por um golpe organizado pelos serviços secretos da Inglaterra e dos Estados Unidos. Mossadegh foi substituído pelo xá Reza Pahlevi. A revolução islâmica de 1979 marcaria o fim do xá e o início dessa era de hostilidade.

Segundo um dos seis reféns da época, Mark Lijek, o agente da CIA teve um papel bem menos importante do que o que se vê na tela. Ele escreveu um artigo sobre o assunto no site da Slate. Além disso, o produtor do filme fake, Lester Siegel (vivido por Alan Arkin) não existiu. Siegel é uma composição de seis personagens diferentes.

“Era importante pra mim retratar, tão fielmente quanto possível, os eventos históricos”, disse Affleck. Bem, ele tentou. Mas Argo não é um documentário. Cumpre sua função de entreter e educar, sem ser cabeça ou simplista demais. E é um certo alívio Affleck não ter transformado a História numa papagaiada patriótica.

Leia mais: “Lincoln” e os indicados ao Oscar 2013

Leia mais: Zero Dark Thirty – ou A Hora Mais Escura é o primeiro filme de propaganda da era Obama

O seis reféns que escaparam da embaixada em 1979, com o presidente Jimmy Carter

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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