Como foi enfrentar Bolsonaro em um “Programa do Jô”. Por Luiz Eduardo Soares

Atualizado em 5 de agosto de 2022 às 22:30

Bolsonaro e Jô Soares
Foto: Reprodução

 

Luiz Eduardo Soares,é um antropólogo, cientista político e escritor brasileiro é um dos maiores especialistas em segurança pública do país e nesta sexta-feira (5) relembrou um episódio de quando esteve no Programa do Jô, na TV Globo, e lá expôs suas teses progressistas sobre sua área de conhecimento tendo como contraponto o então deputado federal Jair Bolsonaro. Acompanhe seu relato, feito em seu perfil de Facebook, que acaba servindo como homenagem ao espírito antifascista do artista morto aos 84 anos:

Que tristeza a partida de Jô Soares. Fui a seu programa poucas vezes, acho que foram quatro, sempre experiências fraternais e gratificantes. Ele sempre foi comigo muito respeitoso e inteligente, e eu o admirava.

Numa das vezes, defendi a legalização das drogas e o fim do encarceramento de jovens varejistas do comércio de substâncias ilícitas. Ele reagiu um pouco, não parecia convencido, pelo menos fez ali o papel do advogado do diabo. Mas foi amigável e ouviu meus argumentos.

Acontece que a produção, para compensar, havia convidado um certo deputado, chamado Jair Bolsonaro, que seria entrevistado logo depois de mim. Era 2005.

Quando o capitão, feroz, tentou desmoralizar meu argumento e disse que daria um tiro na testa do jovem a que eu havia me referido, Jô, que me parecera, enquanto eu falava, crítico de minha posição, deu ao deputado uma aula, reapresentando sinteticamente, mas com precisão, minha análise.

Puxou o tapete sob os pés do capitão que se reportara a mim com grosseria e arrogância. Tirei o chapéu pro mestre Jô, dei-lhe um abraço, no final. Hoje, tiro de novo meu chapéu e lhe dou o abraço final, com muito pesar. Obrigado por tudo, Jô.