Como funciona a onda de boatos antigoverno no WhatsApp. Por Marcos Sacramento

Atualizado em 15 de abril de 2016 às 9:33

boato whatsapp

 

Na guerrilha de informações para derrubar o governo Dilma vale tudo, até espalhar boatos apavorantes sobre confisco de poupança, denúncia de compra de votos contra o impeachment e até mesmo anúncio de guerra civil.

Um desses começou a circular há algumas semanas e é atribuído a um tal major Duarte, diretor presidente de um tal grupo Gedobam. Com voz clara e boa dicção, ele manda o alerta por meio de mensagem de áudio do Whatsapp:

Atenção senhores do grupo Gedobam, quem fala é o diretor-presidente major Duarte. Preste atenção na informação que vou passar para vocês. Os senhores que ainda têm uma certa quantia em banco, em conta corrente, em caderneta de poupança, retirem todo o seu dinheiro. Retirem o dinheiro de vocês do banco. 

Golpe de Estado. A Dilma vai passar a mão em todo o dinheiro da conta corrente e caderneta de poupança no dia 15. Já existe uma revolução em São Paulo em andamento. Vai ser instaurada uma guerra civil em nosso país. A informação é precisa. A informação vem dos Estados Unidos. Levem a sério a nossa informação. Tirem o dinheiro da conta corrente, caderneta de poupança. Um abraço a todos.

Ouvi esse áudio pelo celular de um conhecido da repartição onde trabalho, que veio me mostrar com um misto de preocupação e raiva “a última cartada da Dilma”.

Depois de ouvir a ladainha, fiz o óbvio. Pesquisei “confisco de poupança dia 15” no Google e batata, como escreveria Nelson Rodrigues.

Um dos primeiros resultados era uma matéria da Folha de março de 2015 falando de boatos sobre confisco de poupança, guerra civil e informações de que 20 mil guerrilheiros de prontidão na Amazônia para defender o governo.

O site Diário Gaúcho confirma a falsidade da mensagem do major Duarte, acrescentando o detalhe que o sujeito existe, porém não foi o autor da mensagem. “Obviamente, é tudo falso, jamais enviei isso. O caso já está na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática do Rio de Janeiro. Eles chegarão aos responsáveis”, disse o major Ronaldo Duarte.

Com uns três minutinhos a mais de pesquisa, vi que todas essas histórias adotadas como verdade por inocentes úteis e analfabetos políticos estão devidamente desmascaradas por sites como Boatos.org e E-farsas.

Estão ali histórias geradas nas entranhas de blogs obscuros, como a denúncia do estupro de uma mulher por 54 simpatizantes da Dilma e a tragédia da família “Freitas Cabrini”, morta após o carro em que estavam ser cercado e incendiado por militantes de um certo Movimento Reage Esquerda.

Tudo falso como um iPhone de dois chips. Mas ao contrário do telefone, muita gente compra essas lorotas por credulidade, ódio ao PT ou pela combinação das duas coisas.

Em entrevista para uma matéria da Carta Capital sobre o mesmo assunto deste artigo, publicada há um ano, o especialista em estratégias digitais Paulo Rebêlo lembrou que o Whatsapp tem uma capacidade poderosa de viralizar conteúdos.

“Basta ter dez listas para atingir diretamente mil usuários. Com uma estratégia bem definida, a eficiência é muito alta”, explicou Rebêlo. Hoje o aplicativo está mais poderoso, com até 256 pessoas por grupo.

Quem espalha esses boatos pelo Whatsapp sabe muito bem o potencial de ferramenta. Ainda que voláteis, as mensagens inflamam os ânimos golpistas e inundam o debate político de bílis, retirando dele qualquer resquício de racionalidade.

Mas como elas não têm lastro na realidade, fica fácil garantir: pode deixar seu dinheirinho quieto porque neste dia 15 que não vai ter confisco. Por mais que o Whatsapp diga o contrario.