Como funciona o esquema do YouTube para retirar vídeos como o “Helicoca” do ar

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:31

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O documentário “Helicoca”, do DCM, foi bloqueado no dia 9 de outubro, uma quinta-feira, por uma suposta infração de direitos autorais, reivindicada por um usuário de nome Jorge Scalvini. Para entender melhor o que aconteceu, o DCM participou de uma série de palestras sobre o YouTube na filial do Google em São Paulo.

A palestra que discutiu vídeos fora do ar foi ministrada pelo gerente técnico para a América Latina, Daniel Araújo. “As pessoas que reclamam de irregularidades nos vídeos podem solicitar a retirada através de um formulário digital e, não tem jeito, nós temos que suspender o material por dez dias para averiguação”, explicou.

Foi exatamente o que ocorreu com o DCM. Esse processo é conhecido como “notice and take down” (notifique e derrube, em tradução livre para o português). O YouTube não apagou o “Helicoca”, mas proibiu o acesso para evitar processos por direitos autorais — ainda que fossem de mentira.

O Google retira o material do ar para evitar processos. Enquanto verifica se a denúncia procede, ele deixa tudo indisponível. Essa prática aumentou nos últimos dez anos após processos grandes na área de entretenimento e da música.

Infelizmente, eles retiram do ar com mais rapidez um vídeo verdadeiro que alguém denuncia por “crimes de copyright” do que acusações de invasão de privacidade, como as fotos nuas de diversas mulheres que são compartilhadas na rede sem seu consentimento.

Isso acontece porque processos sobre direitos autorais chegam na casa dos 5 milhões de reais, o que pesa para o YouTube e para qualquer empresa, grande ou pequena. Preventivamente, o site de vídeos acaba prejudicando o produtor de conteúdo temporariamente para se proteger.

Também é fácil acusar o DCM com um perfil falso criado dentro do Google sob a proteção do anonimato do mundo online. A empresa fraqueja na verificação das denúncias.

No Brasil, o Marco Civil da Internet aprovado durante o governo Dilma prevê responsabilização dos usuários na internet por atos ilícitos. Esse projeto de lei acaba incentivando o “notice and take down” para evitar irregularidades na rede.

Entretanto, o YouTube diz que muda de atitude quando comprova que a denúncia é infundada.

“Se o vídeo voltar ao ar, só será retirado sob pedido judicial. Tentamos, na medida do possível, ficar do lado dos produtores de conteúdo”, afirma Araújo.

Para o gerente, ficará cada vez mais difícil tirar os vídeos do ar à medida que o YouTube e o Google conseguirem aperfeiçoar suas ferramentas de categorização dos vídeos, utilizando filtros que verifiquem os dados de quem acusa. Mesmo assim, produtores de conteúdo reclamaram durante a palestra que canais inteiros caíram devido a acusações feitas sem qualquer fundamento. Por esse motivo, o site pede para que os usuários entrem em contato por email para evitar problemas mais sérios.

“Hoje, em poucas horas, subimos mais tempo de vídeo na internet do que as horas totais de canais de TV durante um ano todo. Esses dados continuam aumentando”, declarou Alessandro Sassaroli, gerente de conteúdo e de parcerias do YouTube.

Os produtores de conteúdo do YouTube sobem 300 horas de vídeo por minuto e o tamanho da rede supera as televisões por assinatura, de acordo com dados atualizados do Google. O maior canal de vídeos brasileiro, da Galinha Pintadinha, tem 1,3 bilhão de visualizações.

O YouTube tem 62 milhões de usuários únicos no Brasil. Cerca de 85 milhões de brasileiros tem acesso à internet. Dessa faixa da população, 68 milhões entram via smartphones.

Com tantos usuários e dados trafegando, tanto o Google quanto o YouTube precisam  implementar ferramentas mais sensíveis de fiscalização, através de programas sofisticados que saibam diferenciar denúncias reais das reclamações infundadas e feitas com má-fé na internet.

O “Helicoca”, infelizmente, foi derrubado temporariamente num esquema fraudulento. O YouTube acabou sendo conivente com o acusador sem verificar se existia alguma verdade. Não havia infração de direitos autorais, mas sim gente usando esse sistema falho do YouTube para tentar proteger seus interesses escusos.

“Estamos em uma nova realidade porque não é mais necessário um equipamento caro para produzir bom conteúdo em vídeo. Um celular basta para fazer isso. Antes de trabalhar no YouTube, eu estava na Editora Abril. Lá, pegávamos uma revista e víamos as limitações físicas. Na TV aberta, você tem o limite do tempo. As pessoas descartam muitas boas ideias na mídia antiga, enquanto a internet aproveita essas ideias”, finalizou Alessandro Sassaroli.