Como funciona o golpe do falso médico que causou demissão em hospital de SP

Atualizado em 23 de dezembro de 2025 às 22:42
Técnico de enfermagem Sidnei Alves Monteiro foi demitido após cair no golpe do falso médico
Técnico de enfermagem Sidnei Alves Monteiro foi demitido após cair no golpe do falso médico – Reprodução/Arquivo Pessoal

A demissão de um técnico de enfermagem em Santos, no litoral de São Paulo, após ter sido alvo do chamado golpe do falso médico, se soma a uma sequência de casos semelhantes investigados em diferentes estados do país. A prática criminosa tem se repetido em hospitais públicos e privados e mobilizado alertas de entidades médicas e autoridades.

O golpe consiste na atuação de criminosos que se passam por médicos, diretores clínicos ou gestores da área da saúde para obter dados sensíveis ou exigir pagamentos urgentes de familiares de pacientes internados, principalmente em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A abordagem costuma explorar momentos de fragilidade emocional, quando há internações em estado grave.

No caso registrado em Santos, o golpista utilizou um ramal interno do hospital, apresentou-se com o nome verdadeiro de um médico da unidade e solicitou informações administrativas e imagens de prontuários. Com esses dados, tentou aplicar golpes em familiares de pacientes internados na UTI. O funcionário foi desligado por descumprimento de normas internas e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Casos semelhantes vêm sendo apurados no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro. Em dezembro, uma operação policial prendeu suspeitos envolvidos em um esquema que fazia contatos com familiares de pacientes internados em UTIs, cobrando valores elevados para exames e medicamentos que supostamente não seriam cobertos por planos de saúde.

Como funciona o golpe do falso médico

Apesar de variações, o golpe costuma seguir um padrão. O criminoso se identifica como médico ou membro da equipe hospitalar, usa nomes reais de profissionais, fotos retiradas da internet e, em alguns casos, informações verdadeiras sobre o paciente. Em seguida, afirma que houve agravamento súbito do quadro clínico e exige pagamento imediato, geralmente via Pix, prometendo reembolso posterior.

Em investigações recentes, familiares relataram pedidos que chegavam a R$ 10 mil, sob a justificativa de que a demora no pagamento poderia comprometer o tratamento.

Por que o golpe se repete em hospitais

O ambiente hospitalar reúne fatores que facilitam a ação criminosa. Entre eles estão a vulnerabilidade emocional de familiares, a autoridade simbólica atribuída à figura médica, a circulação de dados sensíveis e a rotina intensa das equipes de saúde, que pode reduzir o tempo para checagem de informações.

Mesmo dados parciais, como setor de internação ou nome do médico responsável, já são suficientes para tornar a abordagem convincente.

Homem de camiseta preta segurando celular, sem aparecer o rosto
Imagem ilustrativa – Reprodução/TV Integração

Alertas de entidades médicas

O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira têm reforçado alertas sobre golpes que usam indevidamente a identidade e a autoridade da profissão médica.

Em comunicado recente, o CFM informou ter recebido denúncias de falsários que entram em contato com médicos por aplicativos de mensagens, usando logomarcas oficiais e linguagem persuasiva para oferecer supostas facilidades no pagamento da anuidade profissional. Os boletos enviados são falsos.

O conselho esclarece que não realiza cobranças por WhatsApp ou aplicativos similares e orienta que qualquer pendência seja verificada exclusivamente pelos canais oficiais. Já a Associação Médica Brasileira afirma que pessoas sem formação adequada ou registro profissional não têm competência legal para diagnosticar ou orientar tratamentos, o que representa risco direto à população.

Impactos do golpe vão além do prejuízo financeiro

Além da perda de dinheiro, o golpe pode gerar abalo psicológico em familiares, quebra de confiança na comunicação entre hospitais e famílias, exposição indevida de dados de saúde protegidos por lei e riscos à segurança do paciente.

Entre profissionais de saúde, há também consequências éticas e trabalhistas, mesmo quando a ação ocorre em contexto de boa-fé, o que tem levado instituições a discutir protocolos mais claros e treinamentos específicos contra golpes baseados em engenharia social.

Como se proteger do golpe do falso médico

Pedidos urgentes de pagamento devem ser vistos com desconfiança. Hospitais não cobram exames ou medicamentos por telefone ou WhatsApp, e conselhos profissionais não enviam boletos por aplicativos de mensagens. Não se deve compartilhar imagens de prontuários, telas de computador ou dados internos.

Em caso de dúvida, a orientação é entrar em contato diretamente com o hospital ou com o conselho profissional pelos canais oficiais. Ao identificar uma tentativa de golpe, recomenda-se encerrar o contato, comunicar a instituição envolvida e registrar ocorrência policial.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.