Como funcionava esquema de “Faria Limers” que causou prejuízo de R$ 39 milhões

Atualizado em 7 de novembro de 2025 às 13:08
Anderson de Oliveira e Ricardo Avilez. Foto: Reprodução

O trio de “Faria Limers” condenado à prisão construiu, segundo a Justiça paulista, uma estrutura pensada para parecer sólida, moderna e sofisticada. Anderson de Oliveira, Cristiano de Oliveira e Ricardo Avilez chegavam a reuniões em carros importados, usavam cartões com endereços em regiões nobres de São Paulo e se apresentavam como especialistas em recuperar empresas em crise.

A fachada era a porta de entrada para um esquema que levaria diversos negócios à falência e causaria prejuízos milionários ao longo de mais de uma década. A investigação aponta que o ponto central da estratégia era o AJC Group (All Jaber Company), conglomerado de fachada criado para atrair empresas endividadas.

Com sites bem produzidos, anúncios patrocinados e escritórios temporários na Faria Lima, Berrini, Nações Unidas, Joaquim Floriano e Funchal, eles diziam atuar como “maior fundo distressed business do Brasil”. O objetivo, porém, não era reestruturar as companhias, e sim assumir o controle para esgotar seus ativos.

Segundo o Ministério Público, o método se repetia: o grupo iniciava conversas afirmando que tinha capital pronto para investir e apresentava auditorias simuladas. A compra era formalizada por contratos de pagamento parcelado, sempre por meio de empresas controladas por eles, mais de 50, muitas com capital social fictício. Depois de obter o comando dos negócios, começava a etapa de deterioração deliberada.

Na prática, dizem os promotores, os acusados desviavam recebíveis, moviam recursos para contas vinculadas ao próprio grupo, demitiam funcionários sem quitar verbas rescisórias e deixavam de pagar fornecedores, impostos e credores.

Esquina entre a Faria Lima e a Rebouças. Foto: Reprodução

O juiz Guilherme Martins Kellner afirmou que, “em vez de saneá-la, apropriavam-se dos recebíveis e deixavam de honrar compromissos”, levando empresas ao colapso operacional. Quando a situação se tornava insustentável, o trio desaparecia e o patrimônio seria blindado em nome de laranjas e familiares.

Os casos descritos no processo mostram o padrão. Em 2010, a compra da padaria Padoca do Anão por R$ 5 milhões terminou com todas as parcelas inadimplentes e desvio das vendas por meio de máquinas de cartão trocadas.

A Serro Pedras Naturais negociou por dois meses e não recebeu um centavo dos R$ 600 mil acordados. Já a Devemada Engenharia, com duas décadas de atuação, fechou depois de firmar contrato de R$ 21,6 milhões cujas parcelas jamais foram pagas, deixando funcionários e fornecedores sem receber.

O trio foi condenado a sete anos de prisão em regime fechado. Outros seis envolvidos receberam pena de quatro anos e seis meses em regime semiaberto. As defesas, porém, negam formação de organização criminosa e afirmam que os processos tratam de desacordos comerciais. Argumentam que a acusação utiliza expressões vagas, como “teia empresarial” e “dilapidação de empresas”, sem descrição detalhada de crimes.

As condenações, segundo o juiz Kellner, foram baseadas no impacto real das manobras: empresas quebradas, empregos perdidos e prejuízos acumulados em mais de R$ 39 milhões. Para a Promotoria, a atuação dos réus não tem relação com riscos do setor de empresas em dificuldades, mas com um esquema estruturado para explorar justamente empresários fragilizados.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.