
O trio de “Faria Limers” condenado à prisão construiu, segundo a Justiça paulista, uma estrutura pensada para parecer sólida, moderna e sofisticada. Anderson de Oliveira, Cristiano de Oliveira e Ricardo Avilez chegavam a reuniões em carros importados, usavam cartões com endereços em regiões nobres de São Paulo e se apresentavam como especialistas em recuperar empresas em crise.
A fachada era a porta de entrada para um esquema que levaria diversos negócios à falência e causaria prejuízos milionários ao longo de mais de uma década. A investigação aponta que o ponto central da estratégia era o AJC Group (All Jaber Company), conglomerado de fachada criado para atrair empresas endividadas.
Com sites bem produzidos, anúncios patrocinados e escritórios temporários na Faria Lima, Berrini, Nações Unidas, Joaquim Floriano e Funchal, eles diziam atuar como “maior fundo distressed business do Brasil”. O objetivo, porém, não era reestruturar as companhias, e sim assumir o controle para esgotar seus ativos.
Segundo o Ministério Público, o método se repetia: o grupo iniciava conversas afirmando que tinha capital pronto para investir e apresentava auditorias simuladas. A compra era formalizada por contratos de pagamento parcelado, sempre por meio de empresas controladas por eles, mais de 50, muitas com capital social fictício. Depois de obter o comando dos negócios, começava a etapa de deterioração deliberada.
Na prática, dizem os promotores, os acusados desviavam recebíveis, moviam recursos para contas vinculadas ao próprio grupo, demitiam funcionários sem quitar verbas rescisórias e deixavam de pagar fornecedores, impostos e credores.

O juiz Guilherme Martins Kellner afirmou que, “em vez de saneá-la, apropriavam-se dos recebíveis e deixavam de honrar compromissos”, levando empresas ao colapso operacional. Quando a situação se tornava insustentável, o trio desaparecia e o patrimônio seria blindado em nome de laranjas e familiares.
Os casos descritos no processo mostram o padrão. Em 2010, a compra da padaria Padoca do Anão por R$ 5 milhões terminou com todas as parcelas inadimplentes e desvio das vendas por meio de máquinas de cartão trocadas.
A Serro Pedras Naturais negociou por dois meses e não recebeu um centavo dos R$ 600 mil acordados. Já a Devemada Engenharia, com duas décadas de atuação, fechou depois de firmar contrato de R$ 21,6 milhões cujas parcelas jamais foram pagas, deixando funcionários e fornecedores sem receber.
O trio foi condenado a sete anos de prisão em regime fechado. Outros seis envolvidos receberam pena de quatro anos e seis meses em regime semiaberto. As defesas, porém, negam formação de organização criminosa e afirmam que os processos tratam de desacordos comerciais. Argumentam que a acusação utiliza expressões vagas, como “teia empresarial” e “dilapidação de empresas”, sem descrição detalhada de crimes.
As condenações, segundo o juiz Kellner, foram baseadas no impacto real das manobras: empresas quebradas, empregos perdidos e prejuízos acumulados em mais de R$ 39 milhões. Para a Promotoria, a atuação dos réus não tem relação com riscos do setor de empresas em dificuldades, mas com um esquema estruturado para explorar justamente empresários fragilizados.