
A Polícia Civil de São Paulo revelou como o metanol foi parar em bebidas adulteradas que causaram mortes e intoxicações em diferentes regiões da capital. O produto partia de postos de combustível do ABC Paulista e chegava a fábricas clandestinas usadas para falsificar destilados como vodca e gin, conforme informações do G1.
Segundo as investigações, o combustível era comprado em dois postos de Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. De lá, era levado a uma fábrica clandestina, fechada no dia 10 de outubro, onde o etanol era misturado com metanol e usado na produção das bebidas falsificadas.
O esquema era comandado por Vanessa Maria da Silva, presa na semana passada, com a participação do ex-marido, do pai e do cunhado, que atuavam na fabricação, no envase e na distribuição.
A estrutura do esquema criminoso
Além do núcleo familiar, a polícia identificou fornecedores de garrafas usadas na falsificação. O depósito das embalagens ficava em frente a um dos postos suspeitos, o que facilitava a logística do grupo.
No local, foram apreendidas centenas de garrafas falsificadas e tambores com etanol adulterado. Perícias apontaram concentrações de metanol acima de 40%, enquanto o limite aceitável para uso industrial é de 0,5% — e qualquer presença da substância é proibida para consumo humano.
Como começou a crise do metanol
Os primeiros casos de intoxicação foram registrados no fim de agosto, quando hospitais de São Paulo receberam pacientes com sintomas graves. Em 22 de setembro, a rede estadual identificou que as vítimas não haviam ingerido combustível ou produtos industriais, mas bebidas alcoólicas compradas em bares e adegas.
A partir disso, a Secretaria da Saúde e o Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) emitiram um alerta, e a Polícia Civil passou a tratar o caso como resultado de bebidas adulteradas com metanol.
Origem e rota do combustível
De acordo com a Polícia Federal e a Receita Federal, há indícios de que o metanol usado na mistura tenha sido desviado de importadoras e usinas de etanol.
A Operação Alquimia, deflagrada no dia 16 de outubro, identificou empresas químicas, usinas e terminais marítimos que desviavam o produto para o mercado ilegal. Parte desse metanol era entregue diretamente a postos da Grande São Paulo, com notas fiscais falsas que ocultavam o destino real.
Vendas e locais atingidos
As bebidas adulteradas foram vendidas em bares e adegas de várias regiões da capital, incluindo a Mooca (Zona Leste) e a Saúde (Zona Sul). A Secretaria da Fazenda suspendeu as inscrições estaduais de comércios flagrados vendendo os produtos contaminados.
Mortes e vítimas da intoxicação
Até o último balanço do governo paulista, seis pessoas morreram e 38 foram intoxicadas. As vítimas confirmadas são:
- Ricardo Lopes Mira, 54 anos (São Paulo)
- Marcos Antônio Jorge Júnior, 46 anos (São Paulo)
- Marcelo Lombardi, 45 anos (São Paulo)
- Bruna Araújo, 30 anos (São Bernardo do Campo)
- Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23 anos (Osasco)
- Leonardo Anderson, 37 anos (Jundiaí)
Entre os sobreviventes, há casos de cegueira permanente e sequelas neurológicas graves.
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O que diz o governo de São Paulo
Segundo o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, os suspeitos presos até agora não têm ligação direta com facções criminosas, mas teriam sido enganados por uma organização que lucra com a adulteração de combustíveis.
“É uma associação criminosa que foi prejudicada por uma organização criminosa”, disse Derrite.
Ele destacou que a adulteração de bebidas alcoólicas é uma prática antiga, mas o caso chamou atenção pela alta concentração de metanol encontrada. Uma das bandeiras dos postos investigados já havia sido citada na Operação Carbono Oculto, que apura a infiltração do PCC no mercado de combustíveis.