Como funcionava o esquema que levou metanol a bebidas alcoólicas em SP

Atualizado em 18 de outubro de 2025 às 11:19
Garrafas falsificadas e tambores com etanol adulterado foram encontrados pela polícia em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Foto: Reprodução

A Polícia Civil de São Paulo revelou como o metanol foi parar em bebidas adulteradas que causaram mortes e intoxicações em diferentes regiões da capital. O produto partia de postos de combustível do ABC Paulista e chegava a fábricas clandestinas usadas para falsificar destilados como vodca e gin, conforme informações do G1.

Segundo as investigações, o combustível era comprado em dois postos de Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. De lá, era levado a uma fábrica clandestina, fechada no dia 10 de outubro, onde o etanol era misturado com metanol e usado na produção das bebidas falsificadas.

O esquema era comandado por Vanessa Maria da Silva, presa na semana passada, com a participação do ex-marido, do pai e do cunhado, que atuavam na fabricação, no envase e na distribuição.

A estrutura do esquema criminoso

Além do núcleo familiar, a polícia identificou fornecedores de garrafas usadas na falsificação. O depósito das embalagens ficava em frente a um dos postos suspeitos, o que facilitava a logística do grupo.

No local, foram apreendidas centenas de garrafas falsificadas e tambores com etanol adulterado. Perícias apontaram concentrações de metanol acima de 40%, enquanto o limite aceitável para uso industrial é de 0,5% — e qualquer presença da substância é proibida para consumo humano.

Como começou a crise do metanol

Os primeiros casos de intoxicação foram registrados no fim de agosto, quando hospitais de São Paulo receberam pacientes com sintomas graves. Em 22 de setembro, a rede estadual identificou que as vítimas não haviam ingerido combustível ou produtos industriais, mas bebidas alcoólicas compradas em bares e adegas.

A partir disso, a Secretaria da Saúde e o Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) emitiram um alerta, e a Polícia Civil passou a tratar o caso como resultado de bebidas adulteradas com metanol.

Origem e rota do combustível

De acordo com a Polícia Federal e a Receita Federal, há indícios de que o metanol usado na mistura tenha sido desviado de importadoras e usinas de etanol.

A Operação Alquimia, deflagrada no dia 16 de outubro, identificou empresas químicas, usinas e terminais marítimos que desviavam o produto para o mercado ilegal. Parte desse metanol era entregue diretamente a postos da Grande São Paulo, com notas fiscais falsas que ocultavam o destino real.

Vendas e locais atingidos

As bebidas adulteradas foram vendidas em bares e adegas de várias regiões da capital, incluindo a Mooca (Zona Leste) e a Saúde (Zona Sul). A Secretaria da Fazenda suspendeu as inscrições estaduais de comércios flagrados vendendo os produtos contaminados.

Mortes e vítimas da intoxicação

Até o último balanço do governo paulista, seis pessoas morreram e 38 foram intoxicadas. As vítimas confirmadas são:

  • Ricardo Lopes Mira, 54 anos (São Paulo)
  • Marcos Antônio Jorge Júnior, 46 anos (São Paulo)
  • Marcelo Lombardi, 45 anos (São Paulo)
  • Bruna Araújo, 30 anos (São Bernardo do Campo)
  • Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23 anos (Osasco)
  • Leonardo Anderson, 37 anos (Jundiaí)

Entre os sobreviventes, há casos de cegueira permanente e sequelas neurológicas graves.

Marcos Antônio Jorge Júnior, Bruna Araújo e Marcelo Lombardi são três dos cinco mortos confirmados por ingestão de bebida alcoólica com metanol. — Foto: Reprodução/TV Globo
Marcos Antônio Jorge Júnior, Bruna Araújo, Marcelo Lombardi e Daniel Antonio Francisco Ferreira são quatro dos seis mortos confirmados por ingestão de bebida alcoólica com metanol. Foto: Reprodução/TV Globo

O que diz o governo de São Paulo

Segundo o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, os suspeitos presos até agora não têm ligação direta com facções criminosas, mas teriam sido enganados por uma organização que lucra com a adulteração de combustíveis.

“É uma associação criminosa que foi prejudicada por uma organização criminosa”, disse Derrite.

Ele destacou que a adulteração de bebidas alcoólicas é uma prática antiga, mas o caso chamou atenção pela alta concentração de metanol encontrada. Uma das bandeiras dos postos investigados já havia sido citada na Operação Carbono Oculto, que apura a infiltração do PCC no mercado de combustíveis.