Como ganhar dinheiro fazendo a mesma crônica toda semana: a obsessão de Ruy Castro com Lula. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de abril de 2018 às 20:01
Ruy Castro em seu apartamento: ele tem um assunto

De todos os personagens que biografou — Garrincha, Carmen Miranda, João Gilberto, Nelson Rodrigues, os jogadores do Flamengo —, nenhum merece a atenção de Ruy Castro como Lula.

Semana sim, semana sim também, ele dedica sua coluna na Folha a bater no petista.

Nesta quarta, Ruy escreve que quer visitar Lula.

Recorre a ironias idiotas (Dilma é um “potentado”, o ex-presidente vai ser “supliciado com músicas de Joan Baez” etc).

Não tem a menor graça, mas serve para Ruy, preguiçoso, ver se alguém se interessa nele. 

Os leitores que mordem a isca são o que se espera.

Um sujeito fala em “petropetralhas que se prestam ao venerar um criminoso julgado e condenado em 4 tribunais!”. E por aí vai.

Ruy não quer nem saber.

Ele está no jornal faturando seus pixulecos mandando ver qualquer coisa sobre o assunto mais à mão em sua cobertura no Rio.

Seu ódio a Lula é combustível para servir lixo. Depois vão os dados de medalhão no rodapé: “É um dos maiores biógrafos brasileiros”.

Triste Bahia.

Ruy é uma figura rancorosa. Detesta Roberto Carlos, que o processou e ganhou. O cantor é “censor nato e hereditário”, acusa, entre outras coisas.

Com Lula, não se sabe o que aconteceu, se é que aconteceu algo.

Em 1999, Ruy caiu na esparrela de Ziraldo e cravou em sua pequena enciplopédia “Ela é Carioca”, sobre a gente bonita de Ipanema, que a avó de Gerald Thomas “era alemã, amiga de Hitler e Goebbels, que eram muito generosos com ela”.

Indignado, Thomas contou que a avó judia, na verdade, “teve de deixar tudo na Alemanha quando veio para o Brasil e inclusive perdeu oito membros da família – entre eles sua irmã, Olga, no campo de extermínio de Auschwitz”.

Havia ainda “outras incorreções no verbete”, lembrou.

Ruy pediu desculpas, mas do seu jeito. “Não creio que isso comprometa uma vida inteira de trabalho”, falou.

Podia ter checado com o teatrólogo, mas desistiu porque “estava no meio do atropelo do livro”.

Balela.

Ruy quer que o cidadão acredite que Ziraldo lhe contou de uma senhora que era AMIGA DE HITLER e ele não se importou em apurar. Um misto evidente de canalhice, malandragem e lombeira.

E assim saíram 15 mil exemplares.

Para o Ruy, tanto faz. Faz de trouxas quem o paga e quem o lê. Tem funcionado. Para que mexer nisso?

Hoje, ele domina a arte publicar a mesma crônica toda semana. É para poucos.

O tema da próxima? Adivinha.