Como genro de Malafaia virou “campeão” em recebimento de emendas parlamentares

Atualizado em 26 de outubro de 2025 às 8:32
Anderson Silveira na família de Silas Malafaia. Foto: reprodução

Casado com uma das filhas do pastor Silas Malafaia, o professor Anderson Silveira tornou-se o principal captador de emendas parlamentares da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele coordena o Programa Esporte Para a Vida Toda (Previt), que recebeu R$ 14 milhões do Ministério do Esporte em 2024, mais do que o dobro do segundo maior projeto da instituição.

A iniciativa, segundo apuração do Globo, distribui R$ 11,7 milhões em bolsas, sendo R$ 7 milhões para pessoas de fora da universidade, o que gerou desconforto interno e culminou numa renúncia coletiva na Fundação de Apoio da Rural (Fapur).

O Previt prevê 75 núcleos esportivos em mais de 20 municípios do Rio de Janeiro, dos quais ao menos 14 funcionam em igrejas, a maioria evangélicas. Documentos indicam que os deputados Laura Carneiro (PSD-RJ) e Roberto Monteiro (PL-RJ) tiveram influência na escolha dos locais. Anderson confirma que parlamentares fazem indicações, mas nega interferência direta e qualquer ligação com o sogro.

“Ele (Malafaia) nem sabe que eu trabalho com esse tipo de coisa. Os parlamentares não determinam, mas eles chegam a solicitar que haja, quando possível, uma atenção para essa ou aquela região. Pode acontecer de o parlamentar fazer algum tipo de propaganda no próprio núcleo, mas isso está fora do nosso controle”, afirmou.

Gabriel e Roberto Monteiro. Foto: reprodução

O projeto foi custeado por meio de um Termo de Execução Descentralizada, o que dificulta rastrear os padrinhos das emendas. Internamente, setores da UFRRJ consideraram o volume de bolsas “atípico” e de “baixo retorno acadêmico”, já que grande parte dos beneficiados não pertence à comunidade universitária.

A Fapur, responsável pela gestão dos recursos, enfrentou conflitos com a coordenação do Previt e, em agosto, toda sua diretoria renunciou.

“Com a convicção de que colaboramos para que a Fapur, uma vez maior, mais robusta e profissional, cumprisse melhor o atendimento às necessidades da UFRRJ, nos despedimos com o sentimento do dever cumprido”, diz a carta assinada pelos quatro dirigentes.

Pessoas próximas à fundação afirmam que o projeto foi o principal motivo da saída coletiva, tanto pelo valor envolvido quanto pela dificuldade de execução. Anderson atribui o atraso das ações à “incapacidade da Fapur” de gerir os recursos e disse que o Ministério do Esporte autorizou mudanças no orçamento para priorizar bolsas em vez da compra de materiais, garantindo a continuidade do programa.

Entre os casos de influência política, o aliado da deputada Laura Carneiro, Jorge Luiz Almeida Dalta, aparece como “coordenador administrativo” do Previt, recebendo R$ 6 mil mensais. Ele também integra o Instituto Nelson Carneiro, ONG ligada à família da parlamentar.

Dalta afirmou que foi selecionado por edital “aberto a todos os profissionais aptos e capacitados a concorrer ao cargo, (…) não sendo objeto de indicação”. A deputada, por sua vez, declarou que “pleiteou ao Ministério do Esporte recursos para desenvolvimento de projeto” e que “a execução administrativa e operacional foi de responsabilidade da Universidade”.

Outro caso envolve o deputado Roberto Monteiro, pai do ex-vereador cassado Gabriel Monteiro. Em São Gonçalo, o pastor Cleverson Pinheiro, contratado como “apoio comunitário”, gravou um vídeo agradecendo ao parlamentar por “trazer esse projeto social” à região.

Segundo Anderson, a escolha de igrejas e entidades religiosas como locais de funcionamento ocorreu “sem associação religiosa ou ideológica”, e sim pela capacidade de atender comunidades carentes.

Em nota, a UFRRJ afirmou que a seleção de bolsistas e colaboradores externos foi defendida pela coordenação do projeto “com base em formação e experiência na área do programa, sem vínculo pessoal de qualquer tipo”. A universidade acrescentou que a presença de integrantes das comunidades locais “visa garantir vivência em projetos sociais esportivos e ampliar o alcance das ações”.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.