Como Hitler planejou criar colônia em área da Amazônia que Temer abriu para exploração. Por Eduardo Reina

Atualizado em 30 de agosto de 2017 às 9:17
Nazistas no Rio Jari

Há exatos 92 anos, a área que era uma reserva ambiental entre o sul do Amapá e o sudoeste do Pará, com mais de 46 mil quilômetros quadrados, e que acabou de ser destinada pelo governo Michel Temer para a exploração mineral privada, foi cobiçada pela Alemanha nazista.

O plano de Hitler era criar uma colônia que serviria de base para a invasão do Suriname e da Guiana Francesa, além da exploração de ouro e outros minerais.

No local, atualmente, ainda existem reservas indígenas, um parque nacional, uma floresta nacional e uma estadual, além de quatro reservas ecológicas que compõem a área total da Reserva Nacional de Cobre e Seus Associados (Renca).

O projeto nazista está revelado no livro “Das Guayana-Projekt”, o Projeto Guiana, de Jens Glüsing, lançado em 2008. Ele conta que pouco antes da Segunda Guerra Mundial, militares nazistas planejavam estabelecer uma colônia no meio da selva amazônica, a partir de expedições de cientistas alemães, realizadas entre 1935 e 1937.

A expedição foi criada com a desculpa de que seriam realizados estudos da fauna e flora. A área que seria criada em plena selva abrigaria tropas que a partir dessa região invadiriam as Guianas.

O plano secreto para tanta movimentação era pegar o que estava no subsolo: ouro, diamantes e outros minerais para dar lastro aos cofres do governo alemão.

O objetivo do governo Michel Temer é abrir a exploração mineral no local a empresas internacionais.

A versão oficial sobre a expedição nazista na selva amazônica começou em outubro de 1935. Três jovens aviadores desembarcaram em Belém do Pará com uma tralha de mais de 11 toneladas composta de equipamentos e bagagens.

Gerda Kahle, Gerhard Krause e Otto Schuls-Kampfhenkel, o líder da tropa, tinham o beneplácito do então presidente Getúlio Vargas.

Um outro explorador alemão, Joseph Greiner, acabou morrendo na selva e foi sepultado na região do Jari. Sobre a cova ainda está uma enorme cruz em madeira, talhada com seu nome e uma cruz nazista. Uma foto do sepulcro com índios que serviram de guias dos nazistas na região ilustra a capa do livro.

Há relatórios assinados por Schulz-Kampfhenkel que afirmam ao general Heinrich Himmler, todo poderoso comandante do exército nazista, administrador do Reich e um dos maiores responsáveis pelo assassinato de milhões de judeus no holocausto, que a selva desde o Amapá, onde hoje existe o município de Laranjal do Jari, até a Guiana Francesa, era um território privilegiado pela natureza, com baixíssima densidade demográfica, excelente para a exploração como ‘colônia tropical’.

O pesquisador dissera que a área ‘não deveria ficar nas mãos de povos que, comparados à Alemanha ou à Inglaterra, são inferiores, do ponto de vista racial e civilizatório’.

Antes de iniciar a expedição, com anuência do governo brasileiro, Schulz-Kampfhenkel sofreu com a burocracia aduaneira no Rio de Janeiros para conseguir liberar toda a traquitana trazida da Europa.

Mas como já havia recebido credenciamento de vários institutos de pesquisas e museus de história natural da Alemanha, acabou conseguindo rapidamente a adesão do Instituto Emilio Goeldi, de Belém do Pará, e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. As Forças Armadas brasileiras também apoiaram o projeto alemão na Amazônia.

Uma carta escrita em 3 de abril de 1940 por Henrich Peskoller, oficial da SS, tropa de elite do exército alemão, cujo destinatário era Adolf Hitler, apontava que as reservas de ouro e diamante neste trecho do território brasileiro na Amazônia, segundo o livro de Jens Glüsi, seriam suficientes para sanar a situação financeira da Alemanha em poucos anos.

A cova de Joseph Greiner, vítima da febre amarela

“Na Guiana Britânica, a extração de ouro e diamante é mantida em baixa para não atrapalhar o mercado sul-africano (que era dominado pelos ingleses). Nas mãos do Führer, cada metro quadrado de solo poderia ser em pouco tempo explorado pela grande Alemanha”, escreveu Peskoller.

A expedição começou em Belém do Pará, percorreu as margens do rio Jari, no Amapá, até chegar à fronteira da Guiana Francesa. O percurso foi feito com ajuda de integrantes das tribos wajäi, mayná e aparaí.

Mas à época, o projeto nazista acabou abortado pelo general Heinrich Himmler, que preferiu explorar e dominar outros cantos do mundo.

Depois de ser alvo de Hitler, a região do rio Jari e todo o território até a Guiana Francesa se transformou em local de extração de ouro por garimpeiros e empresas clandestinas.

A intensa exploração mineral levou à criação de área de proteção ambiental na década de 1980, com a criação da Renca para regular a exploração de cobre na região pelo Estado.

Agora, a proteção foi derrubada por Michel Temer. Em menos de uma semana, depois de passar vergonha com o lançamento de um projeto privatizando das riquezas brasileiras e de grande ameaça ao meio ambiente, o presidente revogou o decreto inicial e lançou uma nova proposta, maquiada e marqueteira.

Mas que ainda coloca em risco toda a região, que corre enorme perigo de destruição ambiental. Segundo o MPFm que pediu a revogação, a ideia é “ecocida”.

Nazista colhe dados sobre os índios aparaí