Como meus amigos coxas estão rifando Alckmin para embarcar no bolsonarismo. Por Judite Caberneiras

Atualizado em 6 de agosto de 2018 às 14:35
Bolsonaro e seus fãs

POR JUDITE CABERNEIRAS

Nesta última semana, esquentando os debates nos programas de entrevista, começaram a surgir, entre as pessoas que eu julgava relativamente bem informadas – ainda que defendessem um pensamento neoliberal e que fossem defensoras do PSDB – , algumas que, com a desculpa de que o Brasil precisa “sair da polarização PT X PSDB”, começaram a flertar com a possibilidade de votar no Bolsonaro.

Essa turma é formada por aqueles amigos do primário que você ficou feliz em reencontrar um dia, aquele primo do Opus Dei que você procura fingir que não existe, o colega de trabalho com o qual você tem que se relacionar porque não tem outro jeito.

No fundo, são os mesmos que em anos passados amaldiçoaram as urnas eletrônicas quando a Dilma venceu o Aécio, ou que vaiaram a Dilma na Copa.

Alguns deles – muito mais articuladas do que o próprio candidato – tentam vários argumentos para justificar a ausência de propostas concretas, sempre usando a desculpa de que “ele não responde porque um presidente não precisa saber tudo”.

Acalentados por uma memória afetiva totalmente falsa sobre o período da ditadura militar, abraçam a tese de que presidente não precisa saber de tudo, desde que coloque nos postos-chave (ou Ipiranga) “nomes de peso”, como o economista Paulo Guedes ou o astronauta Marcos Pontes.

O curioso é que essa tese obviamente não se aplicava quando o candidato era Lula, o quase-analfabeto que mudou o quadro sócio-econômico do Brasil.

Na maioria, a turma é formada pelos eleitores raivosos de Aécio Neves, que não consegue se convencer da viabilidade eleitoral de Alckmin e ainda timidamente perguntam “mas porque os jornalistas ficam o tempo todo lembrando do Herzog?”, ou “o que tem de errado em defender a privatização da economia?” para tentar se esquivar da incapacidade de defender, por qualquer ótica, a candidatura de um defensor da ditadura militar.

Outros, ainda mais desinformados e ainda mais raivosos, não têm vergonha de dizer “Bolsonaro é limitado? Sim. Bolsonaro é o candidato dos sonhos? Não. Bolsonaro é o único candidato conservador com chances reais de ser eleito em décadas? Sim. É o único candidato que luta contra a destruição da sociedade brasileira pela esquerda? Sem dúvida.”

São os defensores de frases como “gente de bem não se amedronta com pessoas de punho forte e é exatamente de punho forte que o Brasil precisa nesse momento”.

A falta de contato com a realidade é tamanha que são capazes de ver o fantasma do “comunismo” em praticamente qualquer lugar.

Alckmin, que quando prefeito de Pindamonhangaba batizou uma das ruas da cidade com o nome de Josemaria Escrivá de Balaguer, santo fundador do Opus Dei, é um “defensor do socialismo, sendo a social democracia uma maquiagem”.

Movidos pelo pavor que sentem de que a chamada ´esquerda´ volte ao Palácio do Planalto, alguns ainda tentam se convencer da viabilidade eleitoral candidatos alternativos como o banqueiro Amoêdo e o eterno Álvaro Dias.

Procuram formas de escapar do óbvio constrangimento de se alinhar com um candidato que em 2011, em entrevista para a Playboy, do falido grupo Abril, não teve nenhuma vergonha em afirmar que “seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”.

Não fica bem, para esse segmento da classe média, expressar de forma clara todo preconceito que esconde por baixo de uma postura pretensamente moderna, mas no escurinho da urna, corremos o risco de ver, mais uma vez, aquele fenômeno eleitoral em que candidatos se elegem, mas os eleitores nunca assumem sua responsabilidade no fato.

As eleições de 2018 prometem, sem dúvida, ser as piores dos últimos 20 anos, quando um candidato desconhecido tomou a nação de assalto com seu exército de colloridos.

A crise que se instaurou depois, todos já conhecemos.