Categories: DestaquesPolítica

Como Ministério Público e Judiciário foram buscar lã e saíram tosquiados. Por Fernando Brito

Dallagnol na Câmara

Publicado no Tijolaço de Fernando Brito.

 

Embora seja certo que haverá ainda um mar de pressões e possíveis mudanças, algumas observações se pode tirar do episódio onde o Judiciário – e o Ministério Público cada vez mais se adere a ele, porque juiz que só condena é parceiro de quem só acusa, na votação do pacote das chamadas “medidas anticorrupção”.

A primeira delas é que este processo teve tudo o que não deve ser a criação de lei penal.

Foi concebido como uma conquista de poder pelos procuradores e juízes.

Seu “pai” foi uma estrutura subalterna do MP, a Força Tarefa da Lava Jato, diretamente envolvida num caso concreto, não o processo normal de formulação, feito pelos órgãos que a Procuradoria Geral da União tem com esta finalidade e sem vinculação direta com uma ação em curso.

E foi assim porque, desde o início, a motivação foi muito mais político-marqueteira do que jurídica.

Não fosse assim, aberrações como a validação de prova obtida de forma ilícita, “teste de integridade” e, depois, pagamento de prêmio em dinheiro a delator jamais seriam colocadas no papel, sequer.

É uma tradição sempre fazer reformas de lei penal com estudos amplos, participação de juristas externos ao Estado, não com abaixo-assinados e a monstruosidade de colocar uma instituição como o MP como “promotor” propagandístico disso.

Desde o início, a visão dominante era atropelar o Congresso e sair, triunfantes, como os “salvadores da Pátria”.

E deu-se, então, o que o provérbio português do “ir buscar lã e sair tosquiado”.

E ainda podia ter sido pior, se Geddel Vieira Lima não tivesse sido pego com a boca na botija e criado uma situação em que o trêmulo Michel Temer e os “rabos-presos” de Renan Calheiros e Rodrigo Maia, que aparece nos relatórios da Odebrecht, tivessem abortado a “anistia que não existia” ao caixa 2.

Nem é o caso de  se discutir aqui se foi a maneira correta de responsabilizar promotores e juízes por abusos e desmandos nos processos judiciais – até porque alguma responsabilização tem de haver – mas de entender-se que a votação de ontem foi uma reação do Congresso ao avanço da tropa jurídica.

Como, ao que parece, a reação será a de confronto. O chefe informal da Procuradoria Geral da República e seu porta-voz junto ao Parlamento, Deltan Dallagnol já declarou que foi “aprovada a lei da intimidação contra promotores, juízes e grandes investigações”, pela inclusão de propostas sobre a responsabilidades dos agentes públicos do MP e do Judiciário.

Algumas, simples formalização de punições por algo que já é proibido pela Lei Orgânica da Magistratura, como a proibição de juiz manifestar-se nos meios de comunicação sobre processo em curso. Determinação que muitos, a começar pelo exemplar Gilmar Mendes, ignoram solenemente.

Outras, como punir abertura de processos sem base fática e  fazer indenizar àqueles que forem atingidos por isso não tem nenhum absurdo porque, em todos os casos, será ainda um julgamento “interno”, porque se dará em processos onde o MP atuará e um juiz decidirá. Mas poderia, sim, ser muito mais bem definida se, em lugar de uma retaliação política como evidentemente foi, tivesse sido estudada e articulada serenamente.

Ou se o CNJ não fosse, como vem sendo, o terreno da impunidade a estes abusos.

De qualquer  forma, preparem-se para mais crise institucional.

O Legislativo que ontem cortou as verbas da Saúde e Educação é o mesmo que aparou as asas da República de Curitiba.

Os caminho da crise não só seguem abertos como se alargaram.

Porque nossa “sereníssima” Justiça virá de garras e bicos sobre isso.

 

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

Todos ainda querem ser Mujica. Por Moisés Mendes

José Mujica está doente. Informou esses dias que tem um câncer no esôfago e, que…

15 minutos ago

Temporais no RS matam 32 e podem provocar cheia recorde no Guaíba

O Rio Grande do Sul enfrenta uma situação crítica devido aos temporais que assolam o…

26 minutos ago

Lula recebe primeiro-ministro do Japão nesta sexta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reunirá com o primeiro-ministro do Japão,…

39 minutos ago

Nos EUA, congressistas brasileiros encontram deputado que investigou Trump

Congressistas brasileiros e norte-americanos estão prestes a divulgar um manifesto conjunto em defesa da democracia.…

7 horas ago

Governador do RS diz que Porto Alegre terá enchente jamais vista

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), em uma transmissão ao vivo…

7 horas ago

Ao CNJ, Gabriela Hardt admite erro em caso da Lava Jato e critica sucessor de Moro

Gabriela Hardt, conhecida por seu papel como juíza substituta nos casos da Lava-Jato no Paraná,…

8 horas ago