Como multinacionais eram usadas no esquema de produção de crack de Cariani

Atualizado em 14 de dezembro de 2023 às 11:48
Renato Cariani. Foto: reprodução

A Anidrol, empresa com o bolsonarista Renato Cariani entre seus sócios, é acusada de emitir notas fiscais no nome de grandes corporações para encobrir o desvio de produtos químicos, incluindo substâncias para a produção de drogas, como o crack.

Entre os indivíduos envolvidos estava alegadamente a AstraZeneca, que nega qualquer transação com a Anidrol. Augusto Guerra, suposto intermediário dos depósitos, não foi reconhecido pela biofarmacêutica como colaborador.

Evidências mostram que o IP usado por Guerra é registrado em nome da AstraZeneca, mas desvinculado de suas atividades. E-mails trocados com a Anidrol foram apresentados pela AstraZeneca como parte das comunicações relevantes.

Em 2019, a AstraZeneca solicitou à Polícia Federal (PF) uma investigação após questionamentos da Receita sobre pagamentos à empresa de Cariani. Dois depósitos não declarados, em 2015 e 2016, totalizando R$ 103,5 mil e R$ 108,5 mil, foram investigados.

A empresa de Cariani alegou à Receita ter vendido cloreto de lidocaína à AstraZeneca, mas a empresa negou tais transações. Segundo a AstraZeneca, não há registros da Anidrol como fornecedora, inviabilizando qualquer pagamento em seu favor.

A investigação, iniciada em 2019, identificou cerca de 60 transações relacionadas ao desvio de produtos químicos. Aproximadamente 12 toneladas de substâncias (fenacetina, acetona, éter etílico, ácido clorídrico, manitol e acetato de etila) foram desviadas, correspondendo a mais de 19 toneladas de cocaína e crack prontas para consumo, segundo a PF.

Os envolvidos utilizavam diferentes métodos para ocultar a origem ilegal dos valores recebidos. A Polícia afirma que os investigados poderão enfrentar acusações por tráfico, associação para fins ilícitos e lavagem de dinheiro, com penas acumuladas ultrapassando 35 anos de reclusão.

A Anidrol foi alvo de busca e apreensão pela PF, sediada em Diadema, região metropolitana de São Paulo. O Ministério Público solicitou a prisão de Renato Cariani, negada pela Justiça. O delegado do caso afirmou que todos os sócios da empresa estavam cientes do desvio de produtos.

Na Receita Federal, Cariani consta como sócio da empresa, juntamente com outro indivíduo, com capital social de R$ 500 mil.

Segundo a PF, o esquema envolveu emissões fraudulentas de notas fiscais por empresas autorizadas a comercializar produtos químicos em São Paulo, usando “laranjas” para depósitos em dinheiro, simulando ser funcionários de grandes multinacionais.

Cariani se manifestou em suas redes, expressando surpresa com a operação da PF e reforçou que a empresa opera de maneira totalmente regulamentada.

“Pela manhã, fui surpreendido com um cumprimento de mandado de busca e apreensão da polícia na minha casa e fui informado que não só a minha empresa, mas várias empresas estão sendo investigadas em um processo, que eu não sei [o conteúdo], porque ele corre em segredo de Justiça”, afirmou Cariani.

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