Como o 1º de maio está sendo preparado como início das paralisações contra o golpe. Por José Cássio

Atualizado em 24 de abril de 2016 às 10:03

protesto

 

Partidos de esquerda e movimentos sociais miram as comemorações do 1º de Maio, dia do Trabalho, para iniciar o que consideram a grande jornada em favor da democracia e contra o golpe de Estado no Brasil.

O ato, convocado pela CUT com início às 10h no Vale do Anhangabaú, será o pontapé inicial para o chamamento da Greve Geral visando protestar e impedir o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

“Ela pode ficar afastada pelo Senado, mas ainda assim não deixará de ser a presidente, eleita com 54 milhões de votos”, discursou, na abertura do 24º Congresso Nacional do partido, neste fim de semana, em São Paulo, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO (Partido da Causa Operária).

O partido, que surgiu de uma dissidência do PT no início dos anos 90, tem influência no meio sindical (professores, funcionários dos Correios e setor metalúrgico) e forte presença nos movimentos populares de periferia e estudantil.

Em 2007, ajudou a impor a mais dura derrota durante a passagem de José Serra pelo governo de São Paulo, com a invasão da reitoria da USP por 51 dias.

Entre outras reivindicações, os lideres estudantis pediam o cancelamento dos decretos de Serra desobrigando o governo de prestar contas sobre o valor repassado às universidades do Estado, num claro desrespeito à autonomia acadêmica.

Na sequência daquele episódio, um ano mais tarde, estudantes e funcionários e policiais militares se enfrentaram na entrada principal da Universidade.

Saldo do confronto: dois policias feridos e quatro estudantes encaminhados para o Hospital Universitário.

O PCO aposta na Greve Geral em decorrência do que vem presenciando nas ruas e nas atividades rotineiras de militância: somente no domingo quando a Câmara selou a autorização para ter prosseguimento no Senado o processo de impeachment, o jornal Causa Operária vendeu três mil exemplares.

A tiragem do semanário, distribuído em 10 estados, que era de cinco mil saltou para 15 mil exemplares. A isso soma-se um grande número de pessoas que procura o partido todos os dias, em contato direto na sede ou pela web.

“É irônico que numa crise institucional gravíssima a gente esteja vivendo um período de vacas gordas em se considerando o crescimento da militância”, diz Rui Costa Pimenta.

Nos meios estudantis e entre intelectuais de esquerda, o PCO é identificado como o primeiro partido a alertar para a ameaça de golpe contra a democracia e ao Estado de Direito no país. Desde 2012 vem martelando nesta tecla.

“Nossa intenção é alertar que a ameaça golpista não se resume à retirada de um governo democraticamente eleito”, diz Rui. “Há mais coisas em jogo: o golpe passa pela eliminação das forças populares, pois junto com a tomada de poder vem a intenção de impedir a participação de Lula na eleição de 2018”.

Por essa razão o dirigente alertou na abertura do 24º Congresso Nacional para a necessidade de firmeza de propósitos.

“Recentemente a revista The Economist, a bíblia do conservadorismo mundial, acenou com uma proposta que soa tentadora para muitos: a convocação de novas eleições gerais. É mais um golpe”, diz Rui. “Se capitularmos, a direita vai entender que foi vitoriosa, e então adeus ao ideal de construir um país mais justo e igualitário”.

Para Rui Costa Pimenta, a curva das manifestações populares se inverteu, num evidente crescimento do grupo contra o impeachment em detrimento dos favoráveis à retirada de Dilma Rousseff.

“No primeiro ato que realizamos no ano passado, em março, foi um sacrifício para juntar gente”, diz ele. “Agora a adesão é espontânea. Basta ver o que aconteceu em Brasília no domingo: o grupo favorável à Dilma era pelo menos três vezes maior que os golpistas”.

Jornalista e professor, versado em diversos idiomas, com um jeito de falar suave, que nem de longe lembra os peões de fábrica que o PCO representa, Rui defende a proposta da Greve Geral por considerar que a batalha vai ser longa.

“Tenho convicção de que conseguiremos parar o país em nome da ética e da democracia”, diz. “Vejo essa intenção em cada trabalhador, em cada jovem da periferia, em cada estudante”.

Para muitos, o PCO é um partido de radicais intolerantes.

É uma visão equivocada. A diferença para os demais é que se trata de um organismo político voltado à formação de quadros e discussões setorizadas, não à ocupação de espaços de poder por meio de disputas eleitorais.

“Temos consciência de que, para nós, seria impossível eleger, por exemplo, um vereador em São Paulo”, diz o militante Henrique Áreas de Araújo, de 30 anos, que trabalha como redator do jornal Causa Operária.

Henrique ingressou no partido durante o período da faculdade – é formado em Ciências Sociais pela Unicamp.

“Era a visão mais coerente com os meus princípios de liberdade e autonomia, e também condizente com minhas leituras sobre marxismo”, diz ele.

Além do jornal e das demais mídias do partido, Henrique é responsável pela “Universidade de Férias” – dois cursos de formação política para jovens realizados em janeiro em julho, com oito dias no verão e 16 no meio no ano.

“Somos um partido de militância social, com penetração no movimento dos professores, entre operários e com forte influência entre jovens da periferia e no movimento estudantil”, conta Henrique, que chegou a ingressar num curso da USP para reforçar a presença do partido dentro da Universidade.

A última coisa que o partido pensa neste momento é em se organizar para disputar as eleições municipais deste ano.

“Isso não está na nossa pauta”, diz Rui Costa Pimenta. “O nosso foco é ajudar a organizar a greve geral que vai parar o país pela democracia e contra o golpe de Estado”.