Como o amor pode ser glorioso e miserável ao mesmo tempo

Atualizado em 23 de março de 2011 às 8:08
Pinter e Antonia nos anos 70, quando se conheceram e se apaixonaram

“Must You Go?” (Você tem que ir?), da escritora inglesa Antonia Frasier, é um livro de amor.

De amor irrestrito, completo, romântico, por um lado. Amor idiota, inconsequente, ridículo, por outro lado.

Metade sublime, metade patético.

É a história de Antonia com Harold Pinter, um dos maiores dramaturgos da segunda metade do século XX. Eram casados quando se conheceram, ambos com 40 e poucos anos, no começo da década de 1970. Conversaram numa festa e gostaram um do outro. Quando ela disse que tinha que ir, ele fez a pergunta que é o título do livro. “Você tem que ir?”

Sim, ela tinha que ir embora. Casada, mãe de seis filhos, o lar a esperava. Teoricamente. Mas não, não foi.

Só a morte os separaria, em 2008, ano em que Pinter ganhou o Nobel de Literatura e em que morreu. Viveram maduros um amor tardiamente adolescente, com a glória e a miséria que isso traz.

É um livro que mostra como os ingleses podem administrar um adultério clamoroso. Antonia relata que, no fragor de sua paixão súbita por Pinter, quando a sociedade londrina já estava informada e chocada, o amante e o marido travaram uma conversa em que falaram de Proust, de críquete e das Índias Ocidentais.

Também é um livro sábio. Uma amiga pergunta se Antonia estava ganhando dinheiro com um livro que lançara fazia pouco. Sim. A amiga então a aconselha a gastar o dinheiro enquanto era jovem e bonita.Sócrates e Confúcio não dariam um conselho melhor.

É ainda um livro engraçado. Antonia lembra que uma vez, nos anos 1970, o então jovem Vargas Llosa disse a ela num encontro de escritores em Londres que admirava muito Pinter. Sobretudo o Pinter da peça “Quem tem medo de Virginia Wolf?”. Tudo bem. Só que a peça não é de Pinter. Antonia fez ‘hmm’ sem corrigir Llosa, porque achou Llosa bonito em seu rosto com formato de cavalo.

Mas é acima de tudo que mostra como o amor pode ser, a um só tempo, tão sublime e tão absurdo, uma reunião de contrários em que as duas partes convivem exuberantemente sem que nenhuma delas triunfe.