Um novo levantamento da Transparência Internacional permite enxergar a floresta e não apenas a árvore
Um olhar para a floresta sempre ajuda a entender melhor a árvore.
Temos discutido intensamente, e apaixonadamente, a corrupção no Brasil.
Mas e o Brasil no mundo?
Um levantamento publicado hoje pela Transparência Internacional (TI) — entidade sem fins lucrativos destinada a aferir a lisura dos países – ajuda a enxergar a árvore brasileira no meio da floresta mundial.
O leitor do Diário pode adivinhar os países que estão no topo da honestidade e retidão. Sim, claro, os escandinavos.
A Dinamarca é o país mais limpo do mundo, segundo o estudo. A Finlândia vem logo a seguir. Suécia, Noruega e Islândia estão no pelotão da frente.
Pausa: a causa maior deste Diário é, modesta porém tenazmente, contribuir para que o Brasil caminhe na direção da Escandinávia. Assim estaremos na frente das listas boas – liberdade de imprensa, liberdade de expressão, justiça social – e atrás na ruins, a começar pelo número abjeto de miseráveis.
Bem, o Brasil ficou numa posição intermediária.
Entre 176 países estudados, ficamos na 69.a colocação. A TI atribui notas que vão de 0 a 100. Como nas escolas, quanto mais altas, melhor.
O Brasil tirou a nota 43. A campeã Dinamarca, 90. Algumas referências, abaixo do Brasil: a Itália, com 42, ficou em 72.o lugar. A Rússia, com 28, em 133.o. A Argentina, com 35, em 102.o.
Mais referências, agora acima: os Estados Unidos, com 73 pontos, ficaram em 19.o. A Espanha, com 65, em 30.o. O vizinho Chile, com 72, em 20.o.
O Brasil ocupa uma posição intermediária, portanto. É, hoje, aquele aluno mediano cujos pais nem se desesperam e nem se encantam com o boletim.
Há um longo caminho a percorrer, se quisermos nos aproximar na Escandinávia, mas não estamos no marco zero.
E se colocarmos em perspectiva os dados anualmente compilados pela TI?
Bem, estamos melhor hoje do que estávamos.
Em 2000, por exemplo, a nota ia de 0 a 10, e os países pesquisados eram 91 apenas. O Brasil, com 4 (o equivalente a 40 na métrica atual), ficou na 46.a posição entre os 91 países estudados.
Claro: na frente, em todos estes anos, a Escandinávia.
O que fazer?
“Os governos devem levar suas ações anticorrupção a todas as esferas públicas de decisão”, diz Huguette Labelle, presidente da TI. “As prioridades são melhores regras para lobby e financiamento político, mais transparência nos gastos e contratos públicos, e medidas para que os órgãos públicos prestem mais contas para a sociedade.”
Uma das vantagens de levantamentos mundialmente respeitados como estes da Transparência Internacional é que permitem, aos que têm boas intenções, discutir corrupção sem gritaria e sem distorções oportunistas. Permitem também constatar onde estão as melhores práticas e adotá-las, para encurtar o caminho.
É inaceitável — como acontece no Brasil — que a discussão sobre a corrupção se trave sem que a lição de limpeza dos países escandinavos, invariavelmente campeões em ética pública, seja devidamente estudada.
Dê um google e veja quantas reportagens você encontrará sobre o exemplo nórdico no combate à corrupção — e em tantos outros tópicos.
É uma lástima.