Como o Comando Vermelho ajudou os fugitivos de Mossoró

Atualizado em 4 de abril de 2024 às 18:53
Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, os fugitivos de Mossoró (RN). Foto: Reprodução

O Comando Vermelho (CV) do Rio de Janeiro deu auxílio aos fugitivos de Mossoró (RN), Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, após escaparem da Penitenciária Federal do estado. Jurados de morte por um braço da facção no Acre, eles receberam auxílio de criminosos para garantir esconderijo e mantimentos em áreas rurais.

Segundo investigação da Polícia Federal, o CV bancou uma rede de apoio à dupla, organizando a entrega de alimentação, bebidas, transporte e até armas de fogo. A corporação apurou que eles entraram em contato com criminosos da facção no dia 16 de fevereiro, data em que fizeram uma família refém.

Nessa ocasião, um residente da área rural de Mossoró onde estavam fez o resgate e conduziu os fugitivos para uma região próxima a Baraúna, última cidade que faz divisa com o Ceará. A suspeita da PF é que o homem que ajudou a dupla seja integrante do CV e tenha recebido R$ 4,5 mil para o serviço. Ele e ao menos outras cinco pessoas foram presas por integrar esse grupo que ajudou a escondê-los.

Deibson e Rogério faziam parte do Comando Vermelho do Acre até tentarem fugir do Presídio Antônio Amaro Alves em julho de 2023. Na ocasião, lideranças da facção decretaram a morte da dupla por suposta traição e suspeita de que queriam fundar a própria organização criminosa.

Braço do Comando Vermelho no Acre foi fundado em 2013, segundo o Ministério Público do estado. Foto: Reprodução

Eles foram “adotados” pelo CV do Rio após a fuga, que ocorreu em 14 de fevereiro e foi a primeira registrada na história do sistema penitenciário federal. Os dois foram transferidos à unidade de Mossoró após uma rebelião no presídio do Acre, que terminou com três detentos decapitados.

Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, os fugitivos estavam em um “comboio do crime” quando foram recapturados nesta quinta (4) em Marabá, no interior do Pará. A suspeita da PF é de que os quatro comparsas que estavam com eles também tenham ligação com o CV.

Nos últimos anos, o Comando Vermelho está no controle do crime organizado no Acre, região tida como estratégica por fazer fronteira com dois dos maiores produtores de cocaína do mundo: Peru e Bolívia. O domínio do estado ocorreu após o grupo perder espaço para o PCC (Primeiro Comando da Capital) na chamada rota caipira, que liga o Paraguai ao Sudeste brasileiro.

Deibson ajudou a fundar o Comando Vermelho no Acre e foi batizado como número 3. Foto: Reprodução

Segundo investigações do Núcleo de Apoio Técnico da Coordenação de Inteligência do Ministério Público do Acre (MP-AC), Deibson é um dos fundadores do núcleo da facção no estado. Em um registro encontrado no celular de um dos presos, ele aparece como a terceira pessoa a ser batizada na organização criminosa, em novembro de 2013, ano da fundação do grupo na região.

“O fato de ser o cadastro número 03 da facção demonstra que o indiciado é um dos fundadores da organização criminosa no Acre e portanto, goza de grande prestígio no interior do sistema prisional para com os demais presos”, afirmou o juiz Robson Ribeiro Aleixo em decisão que condenou Deibson a 12 anos e 11 meses de prisão por organização criminosa.

As decisões do CV são tomadas de forma descentralizada: os comandantes de regiões podem formar alianças entre si. A facção ainda disputa o domínio de rotas de tráficos e de presídios contra o PCC em ao menos outros oito estados: Amapá, Alagoas, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Tocantins.

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