Como o Delegado Waldir deu a Bolsonaro o mote de “Messias”. Por Silvana Marta

Atualizado em 19 de outubro de 2019 às 22:09
A charge que não foi publicada porque Bolsonaro pôs embaixo do braço para levar para sua equipe de marketing

Era uma tarde de julho de 2018 quando o delegado Waldir, atual líder do PSL em conflito com o clã Bolsonaro no partido, abria caminho para a passagem de Jair às dependências de um jornal de Goiânia. O local estava abarrotado de populares aguardando ansiosos a chegada do então candidato à presidência da República.

Waldir agia como um dos seguranças de Bolsonaro, escoltando-o até o estúdio da TV Digital do Diário da Manhã, onde seria entrevistado por Elvécio Cardoso.

Amigo de Batista Custódio, proprietário do jornal, delegado Waldir aproveitou enquanto Jair concedia a entrevista para cumprimentar colegas e pedir voto – era período de eleição e estavam em plena campanha.

Foi quando chegou à redação para rever velhos amigos.

Ao se dirigir à mesa de Fróes, o cartunista lhe mostrou uma charge que havia acabado de criar. Trazia os seguintes dizeres: “Jair ‘Messias’ Bolsonaro: será que esse é o salvador?”

Fróes é cartunista de renome em Goiás, conhecido pelas charges que cria para o Diário da Manhã.

Começou aos 17 anos e não parou mais.

Teve charges publicadas em O Pasquim.

Impressionado com o desenho, Waldir imediatamente tomou da mão do cartunista e levou para mostrar a Bolsonaro – bom marqueteiro, o capitão adorou a associação da palavra ‘Messias” com ‘Jesus’.

Todo mundo sabe em Goiânia que o marketing de campanha de Bolsonaro jogou pesado a partir daí para disseminar a ideia.

Porém, os ventos já não sopram tanto a favor do presidente.

Perdem força à medida que surgem escândalos envolvendo sua família, como as investigações contra o filho Flávio, envolvido no caso Queiroz, além dos ‘fantasmas’ do gabinete de Carlos, o Carluxo.

O outro filho, Eduardo, tornou-se conhecido pela insistência em querer assumir a Embaixada brasileira nos EUA, ainda que não tenha experiência nem capacidade para a função.

Ademais, podemos falar da mala com 39 quilos de cocaína encontrada dentro de um avião da FAB na Espanha durante uma viagem do presidente ao Japão.

Até onde se sabe, o deputado Waldir sempre se manteve leal ao presidente nesses 10 primeiros meses de governo, até que eclodiu a crise do laranjal do PSL e Bolsonaro decidiu deixar o partido, sem abrir mão de levar junto o recurso milionário do fundo eleitoral.

Errou lá atrás, quando, sob seu domínio, o PSL cometeu crime durante a campanha, e erra agora também, quando trama a saída tentando levar a chave do cofre.

Delegado Waldir foi só uma entre as inúmeras vítimas de Bolsonaro nesse trajeto.

O presidente só não imaginava que fosse encontrar pela frente alguém de coragem e disposição para enfrentá-lo.

Quem conhece Waldir sabe do que ele é capaz. Sabe também o papel que desempenhou na eleição de Bolsonaro e a disposição que tem para superar os desafios que terá pela manutenção do PSL unido e fiel aos seus princípios.

Froés, o grande cartunista, que acabou tendo seu desenho usado sem nenhum reconhecimento, mudou de opinião como centenas de milhares de brasileiros em relação a Bolsonaro.

Com exclusividade para o DCM, passou a tarde deste sábado, 18, trabalhando para reinterpretar a cena que ele mesmo consagrou 14 meses atrás (veja abaixo).

Diante de tantos problemas envolvendo Bolsonaro, cogita-se que o presidente esteja perdendo o título de ‘Messias’ para o de ‘Anticristo’.

A reinterpretação dos fatos, com exclusividade para o DCM