“Como o Facebook é incapaz de moderar e apagar comentários racistas?”, questiona modelo que foi atacada

Atualizado em 17 de dezembro de 2020 às 16:51
A modelo Christelle Yambayisa denuncia a falta de ação da empresa de Mark Zuckerberg contra as mensagens de ódio. © Reprodução

Publicado originalmente pelo site da RFI

POR CRISTIANE CAPUCHINHO

Uma modelo negra em publicidade de rede de supermercados francesa causa onda de comentários racistas no Facebook. Christelle Yambayisa denuncia a falta de ação da empresa de Mark Zuckerberg contra as mensagens de ódio.

Com um sorriso reluzente, a modelo Christelle Yambayisa, 32, aplica maquiagem diante de um espelho. A imagem, usada em uma publicidade da rede de supermercados francesa Monoprix, foi publicada no Facebook em 10 de dezembro. Desde então, o post recebeu numerosos comentários racistas e de ódio contra a modelo.

Nascida em Ruanda, a carreira de Christelle como modelo deslanchou em 2016. Ela aparece de maneira recorrente nas páginas das edições europeias da revista Marie Claire ou em campanhas de moda, como as da marca italiana Giorgio Armani.

A celebridade, no entanto, não a poupou de uma onda de comentários racistas e xenófobos. “A grande substituição está em todos os lugares”, “Estou cansado de ver africanos nas publicidades francesas” são algumas das mensagens deixadas na postagem.

Sem ação da rede social contra as as mensagens de ódio, a modelo decidiu questionar o Facebook publicamente. Em um vídeo no Instagram, já visto por 170 mil pessoas, ela diz :

“Este final de semana, eu recebi comentários racistas em uma foto na qual apareço. A publicação ainda está online. Então eu gostaria de fazer uma pergunta. Como, com o impacto que vocês têm e seu lugar na sociedade, suas equipes conseguem desenvolver uma inteligência artificial capaz de detectar qualquer palavra ou expressão associada à situação sanitária, mas há anos são incapazes de moderar ou apagar comentários racistas, misóginos, homofóbicos, antissemitas, de injúria ou de assédio?”

No vídeo, ela conta ainda que os comentários a machucaram. “Eu senti o que sentem aqueles que são vítimas de assédio virtual”, e questiona como a tecnologia da gigante americana não é usada para melhorar essa situação.

“Eu gostaria de entender como é possível que vocês entendam a palavra vacina no meu post e me enviem uma publicidade e, ao mesmo tempo, são incapazes de identificar injúrias raciais. Se o problema não é técnico, qual é o problema?”

Comentários vergonhosos

Dias depois da publicação da publicidade, o grupo Monoprix decidiu colocar uma mensagem dizendo repudiar a discriminação, mas que decidiu não apagar os “comentários vergonhosos”.

Esta não foi a primeira vez que a modelo sofreu ataques racistas nas redes sociais, e foi exatamente a recorrência de casos que a fez se manifestar contra o Facebook.

“Trata-se de denunciar algo muito mais global. O Gafam [Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft] controla o mundo digital. É um crime adotar esse comportamento racista na rua. O cyberbullying também é, e esta rede social deve tomar medidas contra tais atos”, disse, em entrevista ao jornal Libération.

No início de dezembro, o Facebook anunciou que iria revisar seu sistema de moderação e priorizar o bloqueio de mensagens contra negros, gays e outros grupos historicamente visados.

“Sabemos que o discurso de ódio dirigido a grupos sub-representados pode ser o mais prejudicial, e é por isso que focamos nossa tecnologia em encontrar o discurso de ódio que os usuários e especialistas nos dizem ser o mais grave”, disse a porta-voz do Facebook, Sally Aldous, na ocasião.

Até a noite desta quinta-feira (17), a publicação do supermercado ainda continha dezenas de comentários racistas.