Como o Facebook lida com o problema da proliferação de páginas de notícias falsas. Por José Eduardo Mendonça

Atualizado em 1 de novembro de 2016 às 15:44

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Muito tem se falado dos problemas que os jornais impressos enfrentam hoje, com queda de faturamento publicitário e circulação, em uma guerra que parece cada vez mais perdida para o mundo digital. E as revistas?

As editoras que as publicam estão começando, de maneira tardia, a se dar conta que seus concorrentes agora incluem também empresas digitais nativas e impérios da mídia social como  Facebook e Snapchat. E correm para se reestruturar e se reorganizar.

Recentemente, a Condé Nast anunciou planos de criar um grande grupo que juntaria seu pessoal criativo, de arte, design e fotografia, tirados das marcas individuais da companhia. Os que trabalham como redatores ou pesquisadores se juntarão também como um grupo separado, embora as marcas ainda tenham funcionários dedicados a elas.

Na Time a grande mudança ocorreu quando a empresa mudou sua estrutura de vendas baseadas em categorias, não marcas individuais. Isto teve grandes implicações para a companhia no modo como o conteúdo é produzido.

A empresa tem um projeto do que chama de “hubs multi-revistas”, que vão centralizar design, layout e texto, da mesma forma que jornais como o New York Times estão criando editorias dedicadas à produção do jornal impresso. Isto deverá resultar em demissões.

Os hubs lembram a companhia PubWork, formada por Heart e Condé Nast no começo do ano para cuidar das impressões das duas.

Algumas marcas famosas, indica a AdAge, podem desaparecer. A Time, por exemplo, não deverá existir impressa além deste ano,  pelo menos não em uma versão semanal, por isto não fazer mais sentido. Funcionários da companhia temem que os websites de marcas da empresa sejam fundidos em um site maior, verticalizado, o que representa uma ameaça à identidade das marcas.

Recado no New York Times para o Google: Comprem o Twitter

O Twitter é uma maravilha da comunicação, escreveu no final de outubro Randall Stross, da Universidade de San Jose, na página de opinião do New York Times. Tem 317 milhões de usuários ativos que trazem uma reação coletiva instantânea às notícias.

Especulou-se recentemente que a empresa poderia ser comprada pela Walt Disney Company ou a Salesforce, mas as duas desistiram. Os resultadoss financeiros do Twitter não têm sido animadores.

Dias antes do artigo ser publicado, a companhia anunciara seus mais recentes resultados – uma perda de U$ 103 milhões, crescimento modesto em receita e demissão de 9 por cento de seus trabalhadores.

Eu tenho uma solução, diz seu autor. “Larry Page, um fundador do Goggle, deveria comprar o Twitter. De seu próprio bolso. Pessoalmente”.

Ou poderia ser qualquer bilionário que veja o Twitter pelo que ele é: uma fonte primária de notícias e informação, não o próximo Google ou Facebook. Quando Jeff Bezos comprou o Washington Post, não foi porque o jornal era uma oportunidade de negócio atraente. Era, e permanece sendo, uma instituição consagrada do jornalismo.

Os jornais mais proeminentes, incluindo o Post, são há muito controlados por famílias que entenderam a imprensa não como um setor ordinário, mas uma vocação cívica (é bom ressaltar aqui que se fala do jornalismo americano, e não o lixo no qual o brasileiro se transformou). O Twitter não é ainda tratado como consagrado, mas tem as características de uma instituição que poderia ser.

Se o jornalismo é o primeiro rascunho da história, o Twitter é o primeiro rascunho do jornalismo, argumenta Stross.

Os fundadores da nação reconheceram a importância da disseminação rápida da notícia, quando impuseram baixas taxas postais para assinantes de jornais. O conteúdo de muitos deles consistia em grande parte de republicações de artigos trocados entre jornais. Da mesma forma, os links nos tweets servem como guia indispensável para o melhor do jornalismo que se origina fora do Twitter.

Então, quem melhor para resgatá-lo que Page, fundador de uma empresa dedicada a organizar a informação mundial? Page comanda também um império construído sobre algoritmos. E o Twitter tem necessidade urgente de melhores algoritmos, para manter a plataforma limpa do esgoto de racistas, anti-semitas e outros trolls.

Facebook continua com o problema das notícias falsas

Fraudes e mais fraudes. Páginas extremistas lançam posts falsos que se tornam virais. E a mídia tradicional está usando estes posts como se fossem verdade. O maior problema é que o Facebook parece incapaz de tirá-los mesmo depois de reconhecer  que são engodos.

Nenhum dos posts traz algum aviso de que são falsos. Diferentemente de quando foi acusado de ser tendencioso, o que causou a demissão de 15 pessoas e uma reunião de Mark Zuckerberg com líderes da mídia conservadora, a empresa não anunciou qualquer passo significativo para combater os enganos.

Uma análise feita pelo BuzzFeed de seus páginas ultra-radicais descobriu que os posts com maior conteúdo falso ou sem fatos se deram melhor que as contrapartidas verdadeiras.

E como o Facebook significa tráfego, e tráfego significa receita, tornou-se um componente chave do modelo de negócio dos sites de notícias falsas. Alguns deles se dão bem. Segundo o New York Times o administrador de uma página destas leva para casa 20 mil dólares por mês.

Mas a mídia partidária foi um dos primeiros tipos de mídia, observa Craig Silverman, do BuzzFeed. E os fatores que a tornaram um sucesso ainda são verdadeiras. As pessoas gostam de ler coisas que confirmam suas crenças.

Só que o Facebook não é uma mídia qualquer que falsificadores usam para espalhar o que não é verdade. Ou uma fonte de notícias de confirmação tendenciosa de posições políticas. Ele turbina muito ambas as coisas, comenta o Poynter.