Como o hip hop virou pop

Atualizado em 6 de dezembro de 2012 às 14:55

Era uma vez um tipo de som que representava revolta e contestação. Agora, se tornou mainstream
Black Eyed Peas

Já foi o rock, a  disco, o rock, a dance  music, o rock de novo, e agora é o hip hop. Mais ou menos nesta ordem, desde a criação da comunicação em massa, os gêneros musicais dominantes se alternaram nos maiores mercados globais de música.

Com o Psy e a Lady Gaga, você  pode se confundir – e achar que este é o momento da dance music. Mas o erro é tão grande quanto  considerar que, por causa da Amy Winehouse, a década passada foi o momento do jazz. São revivals, casos à parte. Este é o momento do hip hop e a Billboard irá confirmar se você duvidar de mim . (O chart da Billboard, não a revista brasileira.)

A escalada do hip hop rumo ao topo do mundo foi praticamente oposta à do rock. Vamos lembrar um pouco sobre o rock: começou, pelos anos 50, soando mais ou menos como o swing. O peso da música foi aumentando, de forma que na década de 80, nós tínhamos subgêneros como o heavy metal e o punk rock.

Com o hip hop foi diferente. Ali pelos anos 90, o rap começava a se destacar, mas era muito pesado. E já aqui vamos fazer um parênteses: rap e hip hop são, na cultura americana, sinônimos. É basicamente como se o hip hop fosse o rap moderno.

Os primeiros álbuns de rap apareceram nos EUA e no Reino Unido pelos anos 80. De La Soul, cujos arranjos foram feitos por meu bom amigo Paul Waller,  produtor com o qual estudei em Londres, foi um dos primeiros álbuns de rap da história.

O que mudou de lá para cá é que, de música de protesto, o rap passou a ser… música. Havia uma tendência já desde os anos 90 para suavizá-lo, ao menos no que diz respeito à temática. Michael Jackson usou elementos de rap, TLC ganhou o Video Music Awards com canções de amor que já pareciam um bocado com o hip hop de hoje. O Massive Attack, que também já foi arranjado por Paul Waller, tinha um movimento para este lado. Mas nada disso era de fato rap como o que o Ice T ou o Public Enemy faziam.

Com a chegada do Snoopy Dog e, posteriormente, do Eminem, o rap estava definitivamente no topo, com um tom mais bem humorado. Mas o hip hop ganha sua forma definitiva com o Black Eyed Peas. Eles não foram os primeiros, mas  levaram  o hip hop a um novo patamar. Ali você tinha o melhor dos dois mundos – o MC (ou os MCs no caso), a cantora, a melodia, a rima, a fala, a batida.

Hoje, um artista tem que ser muito famoso (e bom) para poder negar a fórmula criada pela banda americana. No mainstream, apenas o Jay-Z se atreve. Todos os outros MCs dividem seus atos com cantoras e vice-versa.

A era do hip hop está no apogeu. Uma hora vai decair. Mas vai demorar. Então termine ouvindo I Gotta Feeling comigo.

 

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Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ