Como os algoritmos moldam o que vemos nas redes e afetam a democracia

Atualizado em 6 de julho de 2025 às 14:46
Facebook. Foto: Reprodução

O conteúdo que usuários veem ao acessar redes sociais é definido por algoritmos que operam a partir de padrões de comportamento de grandes grupos. Segundo a pesquisadora Marie Santini, da UFRJ, os sistemas de recomendação se baseiam em comunidades de gosto — grupos com hábitos de consumo semelhantes — para sugerir novos conteúdos. A lógica surgiu na indústria musical e foi estendida a vídeos, notícias e produtos, tornando-se a base da curadoria digital moderna.

Embora eficientes, esses algoritmos beneficiam principalmente as plataformas digitais. Elas concentram dados, publicidade e métricas de performance, deixando criadores com pouca transparência e remuneração baixa. Os sistemas tornaram viável a monetização de conteúdos de nicho, salvando setores culturais como o audiovisual, mas impõem forte controle sobre o que é distribuído, visto e valorizado.

No jornalismo, a situação é preocupante. Plataformas como Google e Meta moldam formatos e estratégias editoriais com base no que é mais recomendável para seus sistemas, muitas vezes priorizando o engajamento a qualquer custo. Isso gerou uma avalanche de conteúdos de baixa qualidade, enquanto veículos menores dependem do apoio técnico dessas empresas para sobreviver, abrindo mão de parte da autonomia editorial.

A desinformação ganhou escala industrial e opera como mercado global. Grupos políticos, econômicos e até criminosos usam as redes para espalhar conteúdos falsos e influenciar eleições. Com o uso de inteligência artificial, bots e perfis falsos, essa indústria manipula o debate público, inflando temas, fabricando controvérsias e ampliando discursos radicais. A falta de regulamentação garante que esses agentes ajam sem responsabilização.

Rede social X. Foto: Reprodução

Setores como saúde e meio ambiente também sofrem com a desinformação. Influenciadores promovem falsas curas e sabotam políticas públicas com campanhas que desacreditam ciência e vacinas. A extrema direita, por sua vez, consolidou as redes como aliadas estratégicas, atuando contra qualquer regulação que limite o alcance de sua comunicação ou puna o discurso de ódio.

Para enfrentar esse cenário, especialistas defendem medidas culturais, políticas e econômicas. É preciso responsabilizar as plataformas, exigir transparência nos sistemas de recomendação e regulamentar a atuação digital. O atual modelo centrado no lucro precisa ser substituído por um ambiente digital que valorize os direitos, a diversidade e o interesse público, evitando que o caos informacional continue sendo tratado como inevitável. As informações são do Estado de S. Paulo.