Como os Bolsonaros tratariam Jair e seu plano terrorista para explodir bombas no Rio? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de janeiro de 2019 às 15:56
O croqui do plano terrorista de Bolsonaro na matéria da Veja

Os Bolsonaros estão a mil por hora com seu gado nas redes para tentar faturar em cima do caso Battisti, preso pela polícia boliviana em Santa Cruz de La Sierra.

O governo brasileiro chegou a informar a vinda dele, mas as autoridades italianas já haviam decidido levá-lo diretamente da Bolívia, sem escalas. 

Um avião da Polícia Federal foi deslocado para Corumbá (MS), na fronteira, e ficou de plantão.

O general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, afirmou que Battisti passaria pelo Brasil e só faltavam “detalhes”.

Deu no que deu.

Ficaram com o mico na mão, mas Jair não se deu por vencido.

Ele e seus garotos não tiram “terrorismo” e suas variações da boca.

“Parabéns aos responsáveis pela captura do terrorista Cesare Battisti! Finalmente a justiça será feita ao assassino italiano e companheiro de ideais de um dos governos mais corruptos que já existiram do mundo (PT)”, escreveu JB no Twitter, onde mora.

“Aguardamos ansiosamente qual será a reação do PT, PCdoB, PSOL e alinhados diante da prisão do italiano terrorista assassino”, provocou Carlos, eternamente pilhado.

Eduardo, o zero 3, ofereceu lições: “Quer evitar ataques terroristas? Jogue duro com eles, caso contrário você vai perder o respeito e quem sabe até a vida…”

Bolsonaro “jogaria duro” com Bolsonaro?

Reproduzo aqui matéria do excelente repórter Eduardo Reina para o DCM sobre o plano terrorista de Jair Bolsonaro:

Dos 11 inquéritos, ações penais, mandados de injunção e petições sobre Jair Bolsonaro que estão ou já passaram pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nenhum foi mais explosivo e preocupante para suas pretensões políticas do que o julgamento no dia 16 de junho de 1988 no Superior Tribunal Militar (STM).

Bolsonaro era acusado de transgressão grave ao Regulamento Disciplinar do Exército (RDE). Ele dera entrevista e publicou artigo na revista Veja, em 1986, com comentários nada amigáveis ao governo federal.

Também planejou ações terroristas. Iria explodir bombas em quartéis do Exército e outros locais do Rio de Janeiro, como na principal adutora de água da capital fluminense, para demonstrar insatisfação sobre índice de reajuste salarial do Exército.

Anos depois desse episódio sobre os planos terroristas de Bolsonaro no STM, o próprio disse à imprensa que todo esse imbróglio jurídico interno da caserna apenas o ajudou a ganhar fama e se eleger.

“Eu nem pensava em entrar na política, mas isso me ajudou porque fiquei conhecido e então eu fui eleito no ano seguinte”, declarou para a imprensa em 2014. No ano de 1988, Bolsonaro foi eleito vereador no Rio de Janeiro com 11 062 votos, quando passou para a reserva não remunerada da corporação. (…)

As recomendações de Eduardo Bolsonaro para evitar ataques terroristas

Paralelamente, para pressionar o comando do Exército, Bolsonaro e outros militares planejaram explodir bombas em quartéis do Exército no Rio de Janeiro e outras localidades como a adutora de água Guandu, que abastece a cidade do Rio. Alguns dos alvos seriam a Vila Militar e a Academia de Agulhas Negras.

O plano seria acionado caso o governo concedesse aumentos salariais inferiores a 60%.

Batizado de “Beco sem Saída”, a ideia tinha o objetivo de deixar clara a insatisfação dos oficiais com o índice de reajuste salarial que seria anunciado em poucos dias pelo ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves.

Os atentados a bomba iriam ferir seriamente a autoridade do ministro e colocariam o Brasil em polvorosa.

Mas havia dois pesos e duas medidas. No mesmo ano de 1987, por exemplo, os trabalhadores da hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), realizaram uma manifestação reivindicando aumento salarial. Foram dispersados por tropas do Exército. Um trabalhador foi ferido pela repressão ao ato.

A economia brasileira estava em frangalhos. A inflação muito alta. Fracassou o Plano Cruzado, lançado pelo então presidente José Sarney. Havia muita insatisfação dentro dos quartéis devido à perda de poder aquisitivo e político que os militares gozavam.

“Serão apenas explosões pequenas, para assustar o ministro. Só o suficiente para o presidente José Sarney entender que o Leônidas não exerce nenhum controle sobre a tropa”, disse uma esposa de oficial à repórter da revista semanal que fez a matéria sobre o “Beco sem Saída”.

“Temos um ministro incompetente a até racista”, disse à época Bolsonaro. Seria usada TNT, a popular dinamite.

Apesar de ferir dois sustentáculos básicos da carreira militar, a disciplina e a hierarquia, e de ter sido punido inicialmente com 15 dias de prisão, Bolsonaro só ganhou reconhecimento desde então.

Na sua justificativa ao STM, ele disse que a matéria tinha como objetivo fazer vender a revista com publicação sobre assunto sensacionalista, e que não havia falado com a repórter.

O Conselho de Justificação do Exército reconheceu que Bolsonaro havia mentido, mesmo porque a revista publicou croqui desenhado pelo próprio punho de Bolsonaro sobre as bombas e locais onde seriam detonadas. 

Por unanimidade, o Conselho considerou, em 19 de abril de 1988, que Bolsonaro era culpado e que fosse “declarada sua incompatibilidade para o oficialato e consequente perda do posto e patente, nos termos do artigo 16, inciso I da lei nº 5836/72”.

Fatos esses desconsiderados no julgamento do STM, assim como a ameaça de morte feita pelo réu à repórter da revista, durante seu depoimento.

Bolsonaro foi considerado “não culpado” por nove a quatro. Em 1990, chegou a ter entrada proibida nas instalações das Organizações Militares. Proibição suspensa posteriormente. (…)