Como os indicados de Paulo Guedes para dirigir os bancos públicos vão desmontá-los. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 30 de novembro de 2018 às 21:16
O economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia – Fernando Frazão/Arquivo/Agência Brasil

Entre o “radar” manipulado de Jair Bolsonaro e a sanha entreguista de Paulo Guedes, o que podemos afirmar com certeza sobre o futuro dos maiores bancos públicos brasileiros é o de que, de uma forma ou de outra, todos sairão perdendo.

Entre a cruz e a espada, já há nos seus quadros quem torça pelo desmantelamento de suas funções em detrimento do que seria a segunda e mais trágica opção, a privatização.

Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, ambas empresas saneadas, competentes, lucrativas e com forte atuação econômica e social em setores de extrema relevância para o desenvolvimento nacional, entraram de vez na alça de mira dos abutres internacionais.

Não que seja exatamente alguma novidade.

Fortemente cotadas para serem entregues ao capital internacional no governo FHC, voltam com força a comporem o wishful thinking dos barões de Wall Street.

E na exata contramão da declaração do presidente eleito de que BB e Caixa não estariam no “radar” das privatizações da próxima gestão, o que as nomeações dos seus futuros presidentes indicam é algo, no mínimo, contraditório.

Indicado para a presidência da Caixa, o nome de Pedro Guimarães não poderia ter causado maior temor entre seus funcionários.

Não só por ser um exímio especialista em privatizações, inclusive com participação no assessoramento na controversa venda do Banespa, o fato de Guimarães ser sócio do banco de investimento Brasil Plural traz outras questões, digamos, pouco republicanas.

Em nota pública, a Associação Nacional dos Auditores internos da Caixa Econômica Federal, AudiCaixa, já demonstraram os motivos de suas desconfianças. Afirmam eles em trecho da nota:

“É com imensa preocupação que as entidades dos empregados da Caixa acompanham a indicação do sócio e diretor do Banco Brasil Plural, Pedro Guimarães, para a presidência da empresa pública federal.

O Brasil Plural é o principal credor no processo de recuperação judicial da empresa Ecovix, na qual Caixa e Banco do Brasil também são credores.

É evidente, portanto, a incompatibilidade, por conflito de interesses, de um sócio-diretor do Brasil Plural ocupar qualquer cargo de gestão na Caixa ou no Banco do Brasil”.

Conflitos à parte, também não pode ser encarado como mera coincidência o fato da Caixa ter divulgado no último dia 22 uma segunda etapa do Programa de Demissão Voluntária na empresa.

Numa meta que visa atingir até 1.600 funcionários, o chamado Programa de Desligamento de Funcionários dá continuidade ao plano de redução do quadro iniciado desde 2016.

Os sinais estão dados.

Não menos questionável é a indicação do economista Rubem de Freitas Novaes para a presidência do Banco do Brasil.

Já com a determinação clara de “privatizar o que for possível”, Novaes é outra figurinha carimbada nos episódios dantescos que envolveram “relações conflituosas” entre bancos privados e o Banco Central do Brasil ainda no governo FHC.

Novaes teve participação no escândalo dos anos noventa que ficou conhecido como Marka-FonteCindam e que terminou com a prisão do banqueiro Salvatore Cacciola e a queda do então presidente do Banco Central, Francisco Lopes.

Na época Novaes foi denunciado pela Procuradoria do Rio de Janeiro por desvio de dinheiro público, peculato e corrupção. A investigação, no entanto, acabou não dando em nada. Como tantas outras coisas na era dos “Engavetadores Gerais da República”.

Fora tudo, a ficha não estaria completa se no seu currículo não constasse sua participação na ditadura militar.

Novaes foi diretor do BNDES na gestão do general João Figueiredo. Ter servido à ditadura é, como sabemos, condição particularmente apreciada pelos futuros coveiros da democracia brasileira.

Como se vê, não existe forma desses dois grandes patrimônios do povo brasileiro sair ileso ao que está por vir.

Ainda que por muita sorte esses dois instrumentos de política econômica e social do país não sejam “doados” aos grandes investidores estrangeiros, o desmantelamento de suas estruturas funcionais causará impactos difíceis de serem mensurados não só para os seus clientes, mas, sobretudo, para a soberania nacional.

Num clima de apreensão e medo, não são poucos os funcionários de ambas as instituições que voltam a terem os seus destinos pessoais e profissionais à mercê das grandes negociatas que são travadas entre convescotes nos lustrosos salões da República.

Entre esses, não irá demorar para os que apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro sintam na pele o resultado da ignorância política que permite a um empregado optar pelo próprio flagelo.

Quando esse momento chegar, e ele chegará, o “mito” estará, como de costume, batendo continência para os novos donos do Brasil.