
O Conselho de Ética da Câmara decidiu arquivar o processo que pedia a cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de quebrar o decoro parlamentar ao articular, nos Estados Unidos, o chamado “tarifaço”, movimento que encareceu as exportações brasileiras e foi visto como ofensiva política contra o governo Lula.
A decisão, tratada com discrição pelo bolsonarismo, causou forte reação entre parlamentares da base governista, que agora tentam reverter o caso e levá-lo ao plenário. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, já começou a recolher assinaturas para recorrer da decisão.
Robson Bonin, colunista da revista Veja, avalia que, se o tema for de fato ao plenário, pode acabar se transformando em mais um presente involuntário da direita para o governo Lula, fortalecendo o discurso de que o bolsonarismo perdeu o rumo e o senso de responsabilidade pública.
A situação de Eduardo é vista como sintoma de uma distorção institucional: o deputado vive nos Estados Unidos, acumula faltas e, ainda assim, mantém o mandato ativo. O caso escancara um comportamento que parte do Congresso vem normalizando, ao aceitar a existência de parlamentares que não cumprem suas funções, mas seguem protegidos por colegas.

A decisão do Conselho de Ética é interpretada como um ato de autoproteção política. Ao poupar Eduardo Bolsonaro, o Legislativo protege não apenas o deputado, mas o sistema que o abriga. Para Bonin, o caso alimenta a percepção de que o Parlamento perdeu o compromisso com a ética e com os eleitores.
Ao mesmo tempo, a oposição ao governo Lula se enfraquece. Em vez de construir uma agenda política, a extrema-direita se ocupa de blindar um dos nomes mais desgastados do bolsonarismo. Nos bastidores, deputados reconhecem que a insistência em defender Eduardo tem afastado eleitores moderados e dado espaço para o governo se consolidar no debate público.
Líderes partidários, como o pedetista Carlos Lupi, avaliam que o episódio e o próprio “tarifaço” acabaram fortalecendo o discurso do Planalto. O governo, ao associar a extrema-direita à falta de coerência e à autodefesa, sai ganhando politicamente.
O arquivamento no Conselho de Ética, para esses interlocutores, cristaliza a imagem de uma oposição desorientada, que protege privilégios enquanto Lula tenta retomar pautas econômicas e sociais. No Congresso, Eduardo já é tratado como um personagem em declínio. Para colegas, ele representa o esgotamento de uma fase do bolsonarismo: um projeto político que perdeu força, discurso e credibilidade.