Como rádio do interior de SP substituiu a Jovem Pan como porta-voz do bolsonarismo

Atualizado em 27 de julho de 2025 às 15:37
O apresentador da Rádio Auriverde Alexandre Pittoli entrevista o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

Nos últimos anos, a Rádio Auriverde, de Bauru (SP), transformou-se em um dos mais influentes veículos de comunicação do bolsonarismo no país. Com programação voltada para a defesa de Jair Bolsonaro (PL) e críticas ao governo atual, a emissora abriga diariamente políticos e comentaristas alinhados à direita, como os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG), além de nomes que migraram da Jovem Pan, caso de Rodrigo Constantino, Alexandre Garcia e Cristina Graeml.

O momento que melhor simbolizou essa ascensão ocorreu na sexta-feira (18), durante a cobertura em tempo real da operação da Polícia Federal na casa do ex-presidente, que culminou no uso de tornozeleira entre outras medidas preventivas contra Bolsonaro.

“Fomos pegos de surpresa e iniciamos um voo sem instrumentos, o que nunca é agradável”, recorda Alexandre Pittoli, apresentador e administrador da rádio. Naquele dia, o programa News da Manhã Brasil, carro-chefe da emissora com seis horas de duração, registrou pico de 40 mil espectadores simultâneos no YouTube.

A ascensão da Auriverde como voz do bolsonarismo se deve a dois fatores principais: a migração do público da Jovem Pan após a mudança editorial desta última e a simpatia do próprio Bolsonaro pela rádio, sendo que o ex-presidente já concedeu 14 entrevistas à emissora nos últimos dois anos. O vínculo foi estabelecido por meio do senador Marcos Pontes (PL-SP), natural de Bauru.

Alexandre Pittoli e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

Fundada em 1956, a Auriverde teve por décadas uma programação convencional até a guinada à direita iniciada com um comentário de Pittoli sobre o indulto concedido por Bolsonaro ao ex-deputado Daniel Silveira. O episódio atraiu atenção inédita para a rádio e marcou o início de sua nova fase.

A emissora enfrenta desafios nas plataformas digitais. Pittoli relata que o YouTube aplicou “shadowbanning” (restrição não declarada) ao canal após conteúdos defendendo o voto impresso. “Como é que hoje tenho uma audiência e amanhã tenho menos audiência? Estou ciente de que construí no terreno dos outros, mas acho que a relação mais clara com as big techs facilitaria o meu trabalho como empresário”, afirma.

O comentarista Eduardo Borgo, vereador em Bauru pelo Novo, defende o posicionamento da rádio: “É tudo ao vivo, não tem pegadinha ou recorte.

A palavra é franqueada a Bolsonaro, como seria a outra autoridade. Queria entrevistar o Lula e algum ministro do Supremo. Eles teriam portas abertas”. Borgo também comentou as recentes tarifas impostas pelos EUA: “O tarifaço é um ato de soberania americana. Se essa for a medida para restabelecer a ordem democrática no Brasil, o que não podemos aceitar é nos tornarmos uma Venezuela”.