Como reagirá o Partido Militar com os direitos políticos de Lula restituídos? Por Jeferson Miola

Atualizado em 16 de março de 2021 às 9:47
Lula. Foto: AFP

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Jeferson Miola

Até a 2ª feira 8 de março, Bolsonaro e os generais do “Partido Militar” reinavam prepotentes e arrogantes na consecução do brutal processo de devastação do Brasil e na necro-gestão da pandemia.

Eles se sentiam inabaláveis com o controle total da situação, uma vez que mantinham Lula, o único ator capaz de interromper a continuidade do necro-regime, sem direitos políticos.

Um “golpe do acaso” – a fortuna, de Maquiavel – abalou, contudo, a tranquilidade castrense. A decisão do ministro do STF Edson Fachin de anular as condenações ilegais do Lula produziu um abalo sísmico.

Bastou o antológico discurso do ex-presidente – a virtù – em 10 de março, no sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, para derrubar a empáfia militar.

Poucas horas depois, o governo montou às pressas uma cerimônia para anunciar medidas para aquisição de vacinas. A fotografia do Bolsonaro e dos patéticos generais-ministros usando máscaras e em posição marcial só é encontrável nos mais bizarros manuais do ridículo.

Fachin agiu estrategicamente não para realizar a justiça que desprezou durante 5 anos acerca do pedido da defesa do Lula, mas para salvar Sérgio Moro e a Lava Jato.

Esta decisão, que inicialmente gerou justificáveis desconfianças no mundo jurídico, ao fim mostrou-se um erro estratégico retumbante para os objetivos políticos dele próprio, Fachin, e, principalmente, da Lava Jato.

A desmoralização do Moro desnuda a falsa retórica do combate à corrupção e, como efeito, debilita um pilar fundamental sobre o qual o Partido Militar se ancora para autolegitimar a tutela da democracia e do sistema político.

O “Pinochet brasileiro” Villas Bôas considera Moro um “protagonista da cruzada contra a corrupção”; uma personalidade que se destacou “para que o ‘rio da História’ voltasse ao seu curso normal”, referindo-se ao papel do chefe da Lava Jato no banimento do Lula em 2018.

Os militares foram surpreendidos com o descuido do Fachin – o carcereiro que, no afã de salvar Moro, involuntariamente liberou o refém do Exército até então mantido sob custódia do STF, o cativeiro judicial que há mais de 2 anos retarda o julgamento da suspeição do Moro.

A pergunta que se coloca agora é: como reagirá o Partido Militar a este abalo que provocou um tsunami político e embaralhou o jogo de poder? O general da reserva Rocha Paiva [9/3], com a agressividade que lhe é característica, ameaçou ruptura institucional e intervenção das Forças Armadas.

O Alto Comando continua em silêncio. Como, aliás, procede a cada “aproximação sucessiva” e a cada operação psicológica do Partido Militar. Com isso, mantém um clima de suspense e confusão para dar margem a toda sorte de insinuações e dúvidas.

Os militares não aceitam o protagonismo do Lula. A ojeriza ao PT, citada no livro-confissão do “Pinochet brasileiro” como “forte rejeição ao PT” e “sentimento até de aversão ao Partido”, não desaparece com a decisão do STF. Bem ao contrário; sobe de patamar. Villas Bôas disse que o “preocupa uma eventual volta ao poder pela esquerda”.

Agora com os direitos políticos restituídos, Lula se constitui na maior ameaça ao plano do Partido Militar de se manter no poder durante um longo período. O prazo de validade da permanência dos militares se aproxima. Eles melhor fariam, portanto, se agissem com profissionalismo e começassem, desde já, a retirada da política e o retorno aos quarteis.

Lula liberou uma impressionante energia política e social, e é o fator interno no qual a comunidade internacional aposta para conter a ameaça planetária que Bolsonaro representa.

Nesta hora, a cúpula militar está chamada a agir com a responsabilidade, com o profissionalismo e com a obediência à Constituição e ao poder político que, até aqui, demonstrou não possuir.