Como Santa Catarina, o estado mais reacionário do Brasil, está enterrando Carlos Bolsonaro e família

Atualizado em 7 de novembro de 2025 às 8:05
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), conhecido com Carluxo. Foto: reprodução

A tentativa de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) de se lançar ao Senado por Santa Catarina em 2026 virou um desastre dentro do próprio bolsonarismo. O movimento, que deveria fortalecer o clã no sul do país, acabou expondo disputas, ressentimentos e o esgotamento político da família no estado que por anos serviu de vitrine à direita radical brasileira.

A pré-candidatura abalou o PL catarinense e acirrou brigas públicas. A disputa pelas duas vagas da chapa do governador Jorginho Mello (PL) opôs os aliados de Carlos — trazidos do Rio e de Brasília — e a ala local do partido, que exige prioridade a nomes “da casa”. O grupo catarinense defende uma composição entre Caroline de Toni (PL) e Esperidião Amin (PP), ambos com trajetória política consolidada no estado.

A tensão, que veio à tona nas últimas semanas, já se arrastava desde que Carlos Bolsonaro começou a sondar eleitores e lideranças catarinenses. O projeto de importá-lo para o cenário estadual encontrou resistência em todos os níveis — da base bolsonarista até entidades empresariais, como a Fiesc, que reagiu afirmando que Santa Catarina “não precisa de candidatos de fora”.

Enquanto o vereador carioca tentava se firmar, as rachaduras se aprofundavam. Deputadas como Ana Campagnolo e Caroline de Toni se tornaram porta-vozes do sentimento local: o de que a família Bolsonaro está tentando ocupar um espaço que já não lhes pertence. Do outro lado, Eduardo Bolsonaro reagiu em defesa do irmão, trocando ataques públicos com Campagnolo e acirrando o embate.

Nem a figura de Jair Bolsonaro conseguiu apaziguar o conflito. Após reuniões com Jorginho Mello, Carol de Toni e Esperidião Amin, o ex-presidente tentou conciliar interesses, mas acabou isolando Carlos, que já percorria cidades catarinenses tentando construir apoio e prometendo mudar-se em definitivo para o estado.

A aposta, no entanto, saiu pela culatra. A aproximação de Jorginho com Amin, vista como uma tentativa de ampliar alianças com PP e União Brasil, reduziu o espaço do clã Bolsonaro. E, à medida que o nome de Carol de Toni ganhou força entre os eleitores mais fiéis da direita catarinense — com direito a apoio público de Michelle Bolsonaro —, o projeto do filho “02” começou a murchar.

Hoje, o que resta é um racha aberto. Flávio Bolsonaro e Jorge Seif ainda defendem Carlos, mas a cúpula do PL catarinense já considera o plano politicamente inviável. O governador tenta conter os danos e adia definições para 2026, mas a rejeição a candidatos “importados” é evidente.

Santa Catarina, que por anos serviu como laboratório do bolsonarismo mais duro, agora parece disposta a virar essa página. A mesma base que acolheu os filhos do ex-presidente começa a rejeitar a tutela da família, num processo que revela o enfraquecimento de um projeto político que já não fala com a mesma autoridade nem entre seus próprios fiéis.

O estado que Bolsonaro e seus filhos trataram como refúgio político está, aos poucos, tornando-se o lugar onde sua influência perde fôlego — e onde o bolsonarismo, pela primeira vez, se volta contra a própria família que o personificava.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.