
Pedro Bial chegou muito perto de ser dispensado pela TV Globo. Há alguns meses, o jornalista foi informalmente avisado por Amauri Soares, diretor-geral da emissora, que seu contrato não seria renovado em dezembro, encerrando um vínculo de mais de quatro décadas ininterruptas. A decisão do executivo tinha uma motivação simples: o comunicador custa aos cofres da emissora muito mais do que ele consegue arrecadar com seus programas. Seu salário, que já havia sido reduzido de R$ 1,2 milhão para “apenas” R$ 600 mil, é impraticável diante do atual cenário do mercado.
As produções capitaneadas pelo ex-apresentador do Fantástico não são baratas, asseguram fontes bem posicionadas na TV Globo. Nos últimos três anos, a rede até tentou diluir o custo do salário do jornalista entre diversos programas: além do Conversa com Bial, ele assumiu um núcleo de documentários no Globoplay, comandou o retorno do Som Brasil e foi escalado para o Linha Direta, que já foi descontinuado mais uma vez. Nada disso, no entanto, foi o bastante para que a cúpula da rede encontrasse uma justificativa plausível para os vencimentos altíssimos do apresentador.
O Linha Direta, apesar de muito elogiado pelos telespectadores e pela crítica especializada, foi cancelado por um capricho de Amauri Soares, que não gostava do formato do jornalístico. O núcleo de documentários do Globoplay ainda existe, mas com muito menos força desde a demissão de Erick Brêtas, no início do ano passado. Manuel Belmar, que assumiu a plataforma de streaming do conglomerado, cortou praticamente todos os investimentos no gênero. No momento da publicação deste texto, apenas um documentário está sendo produzido pelo serviço.
Belmar, que divide o comando do Globoplay com a chefia da área de finanças do canal, foi alçado ao posto de segundo nome mais poderoso da emissora por uma razão: cortar todos os custos vistos internamente como desnecessários. As atrações de Pedro Bial, assim como o salário fora da atual realidade do mercado, eram avaliadas internamente como um tipo de torneira defeituosa, com um imenso vazamento. Neste caso, porém, o vazamento era de dinheiro, e o dinheiro não aceita desaforo — principalmente em um conglomerado que está sendo reestruturado.

Documentário salvou emprego de Pedro Bial
Depois que Manuel Belmar fechou a torneira de dinheiro que bancava os programas do jornalista, Pedro Bial voltou a ter o seu salário bancado exclusivamente pelo centro de custos do Conversa com Bial. O programa, no entanto, é deficitário: o talk show tem uma equipe muito grande (ele conta com quase três vezes mais colaboradores que seu concorrente direto, o The Noite, do SBT) e sua comercialização sempre esteve abaixo das expectativas, segundo apurou a reportagem do TV Pop.
Além disso, apesar de líder de audiência em São Paulo, o Conversa com Bial é um dos produtos mais fracos da programação da Globo no Painel Nacional de Televisão: em diversas cidades, não é raro que ele fique atrás até do Fala Que Eu Te Escuto, tradicional programa de debates evangélicos da Record. Amauri Soares, então, tomou a decisão que parecia ser mais óbvia: a de acabar com um projeto extremamente deficitário financeiramente. O horário do talk show, em 2026, seria ocupado por uma rebatida da novela das 9, no mesmo modelo já adotado com os folhetins das 19h.
Bial, já ciente da iminência do término de seu contrato, entrou de cabeça no documental O Século do Globo. O seriado, que já era muito chapa-branca por conta de sua temática, foi transformado em uma espécie de declaração de amor do jornalista aos membros da família Marinho. A produção virou motivo de chacota dentro e fora da TV Globo. “Bial é mais puxa-saco do Roberto Marinho do que os próprios filhos do empresário”, constatou Maurício Stycer, crítico de televisão da Folha de S.Paulo, em publicação feita no X, o antigo Twitter.
A constatação de Stycer é a mesma de diversos executivos do próprio conglomerado. E a produção mais puxa-saco da história da empresa deu resultados: Pedro Bial conseguiu estreitar a relação com a família Marinho. A renovação de seu contrato, vista como muito improvável até a conclusão dos trabalhos de O Século do Globo, agora já é dada como certa por 9 em cada 10 pessoas que estavam cientes de sua outrora iminente dispensa. A única dúvida, segundo apurou o TV Pop, é sobre o seu salário — ninguém acredita que o jornalista continuará tirando R$ 600 mil por mês.