Como um bilionário pervertido virou o novo príncipe encantado

Atualizado em 27 de novembro de 2012 às 17:10

A trilogia Cinquenta Tons de Cinza é um sucesso porque as mulheres querem ser subjugadas

 

Mulheres que cresceram à sombra da fuligem de sutiãs incendiados pelas feministas agora querem usar espartilho, cinta liga e ser amarradas enquanto recebem carícias nem sempre delicadas. E assim, entre tapas e beijos, se desenrola a fantasia feminina de ser subjugada, sustentada e controlada por um macho poderoso. Além, é claro, de ter muito prazer sexual. A mulher quer ser um laboratório de sensações, deixar seu corpo à mercê do dominador experiente e não ter que tomar nenhuma atitude. Simone de Beauvoir deve estar se revirando no túmulo.

Esse é o subtexto da trilogia Cinquenta Tons de Cinza, da inglesa quarentona E.L. James. Para ela, estamos cansadas. Trabalhar o mesmo número de horas que o marido, dividir as contas, trocar o pneu do carro? Argh! E na cama ter de ser ativa, inventiva, dominadora? “Me economiza”, por favor. Os livros de E. L. James, fã da série Crepúsculo, são, do ponto de vista literário, um lixo. Parecem um diário adolescente escrito por uma adulta tarada. Ou, se preferir, lembra muito a coleção Sabrina, só que com detalhes do que ocorre após o apagar das luzes. Combinação ultra vendedora entre romance água com açúcar e sexo, muito sexo. Quanto mais depravado, melhor. Bingo! É tudo que as mulheres querem. Só que os homens também estão cansados, sem inspiração e acuados pelas exigências do “novo papel masculino”.

Homens e mulheres estão muito iguais. Se, antes, a afirmação de Nelson Rodrigues de que “a mulher só se realiza no amor” era verdadeira, apesar de misógina, agora a lista de realizações cresceu e muito: carreira, família, filhos… E os homens, duvido que não precisem de uma vida amorosa mais excitante.

No meio disso tudo, como é praticamente impossível pôr em prática os malabarismos eróticos da obra, parece melhor transar com o livro, como nesse vídeo, em que qualquer semelhança com a realidade é a mais pura verdade.

A trilogia Cinquenta Tons é democrática. A manicure e a madame estão apaixonadas pelo mesmo homem. E falam disso sem o menor pudor (nunca foi o forte dessa relação, de qualquer forma). É interessante ver essa expressão coletiva de desejos íntimos aflorando pelas rodas femininas. Pena que, mais uma vez, o sonho vai ficar distante da realidade: já se nota uma falta de bilionários pervertidos, como o “herói” Christian Grey, no mercado.