Como uma boa notícia como a da inflação se transforma em duas más notícias

Atualizado em 9 de agosto de 2014 às 13:24

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A taxa de inflação de julho foi a menor nos últimos quatro anos.

Esta é, claramente, uma boa notícia para o Brasil. Você diariamente lê e ouve informações apocalípticas sobre a inflação.

E os brasileiros sabem o que inflação significa. Nos dias de Sarney – e de Mailson, hoje transformado em professor de economia em colunas e artigos na mídia – a inflação chegou a 80%.

Ao mês.

De novo: aquela é uma boa notícia.

Como você faz para lidar com ela, se você gostaria secretamente que a taxa disparasse para usar isso contra Dilma?

Um giro breve pela imprensa me mostrou, ou me confirmou, que há dois caminhos.

O mais simples é ignorar, e torcer para que o leitor não perceba e não se sinta prejudicado pela desinformação.

Foi o que a Veja fez em seu site.

O segundo é embrulhar a boa notícia cuidadosamente em duas más notícias.

Foi o que o Jornal da Globo fez.

Ali está dito, logo na primeira linha, que o que fez a inflação baixar foram os juros altos e a baixa taxa de crescimento.

Dois fatos negativos – juros altos e crescimento baixo – obliteram a informação positiva.

Isso quer dizer que você fica sem possibilidade de ser elogiado no campo da inflação.

Se ela sobe, você é o responsável. Dilma e equipe, quero dizer.

Se ela desce, você não tem mérito nenhum. É culpado, na verdade, pelas coisas ruins associadas à boa notícia. No caso, os juros altos e o baixo crescimento.

E note: controlar a inflação sempre se fez exatamente assim. Você eleva os juros, e isso diminui o consumo porque o crédito fica mais caro.

Menos consumo significa menos inflação. E menos crescimento, também.

Quando, num momento de desconcertante franqueza, Aécio prometeu a empresários “medidas impopulares”, estava se referindo exatamente a isso.

Foi aplaudido pela plateia.

E na hipótese de fazer isso como presidente, caso se eleja, em algum momento aparecerá a notícia de uma baixa taxa de inflação.

A Veja não a omitirá. O Jornal da Globo não fará ressalvas.

Essa a diferença.

O público das grandes empresas de jornalismo é constantemente manipulado.

A sorte, para a sociedade, é que a internet oferece hoje um contraponto.

Ou seríamos todos, ou quase todos, manipulados.