O ódio patológico de Danilo Gentili à esquerda e, especificamente, ao PT tem variadas explicações. Uma delas, a mais óbvia, é o oportunismo. Gentili sabe que agrada o Silvio Santos da vez ao detonar Lula, Dilma, Dirceu etc.
Para dar um verniz qualquer, ele apenas recheia suas catilinárias com o anticomunismo mais rastaquera, cheio de citações fora de lugar de “1984” e “A Revolução dos Bichos”, livros que não leu, e pronto.
Mas há uma raiva mais profunda que parece vir de uma outra estância de sua alma. Essa ira se revela quando ele relata a “maldade” que a prefeitura de sua terra natal Santo André teria feito com sua mãe, Guiomar.
A questão veio à baila depois que uma denúncia da Promotoria da Vara da Infância passou a circular nas redes sociais.
A mãe cuidava de um lar de crianças carentes — coisa da “livre iniciativa”, afirma ele — que foi “estatizado”. “É isso o que o estado faz”, disse ele num hang out com Lobão e Olavo de Carvalho. Danilo morava num “cortiço” e aquela raça (petista) arruinou a carreira de Guiomar.
O cortiço é uma casa pequena numa área da periferia da cidade, mas ao ouvi-lo você é remetido a um barraco numa favela, infestado de ratos. Um clássico do coitadismo.
A Associação Educacional Beneficente Monte de Gerizim foi aberta em 2001. Em 2002, o Ministério Público do Estado determinou à prefeitura que a direção e os funcionários fossem substituídos imediatamente.
“Maus tratos e castigos imoderados” eram os motivos. As crianças seriam obrigadas a se ajoelhar em tampinhas de refrigerantes e trancadas no banheiro, entre outros absurdos.
Guiomar era coordenadora do setor responsável pelos adolescentes. Num despacho do MP, ela é citada algumas ocasiões. Há o relato de uma garota que diz ter sido “desrespeitada” e “agredida” por Guiomar, lavrando um boletim de ocorrência numa Delegacia da Mulher.
De acordo com o promotor, são vários depoimentos “coesos, coerentes e no mesmo sentido” contra os empregados. Gentili já declarou no Twitter que a prefeitura tomou “outros lares assim, na sujeira” e que sua mãe foi inocentada.
No dia em que ela foi acusada de agredir uma jovem, diz o filho, Guiomar na verdade estava hospitalizada após um acidente de trânsito que a forçou a amputar dois dedos.
A história cabeluda deixou marcas no humorista. Há muito a ser esclarecido, mas uma coisa é certa: ele nunca superou isso.
A simples vingança pode explicar as atitudes mais insuspeitas. Para ficar num exemplo manjado: o que teria levado Hitler a querer eliminar os judeus, segundo alguns historiadores, foi a morte de sua mãe por um suposto envenenamento.
Klara, falecida aos 47 anos, teria sido vítima do tratamento do médico Eduard Bloch, que utilizou iodofórmio em doses elevadas para tratar um câncer. Hitler chamava os judeus de “tuberculose” e a si próprio de “remédio”.
Não explica, é claro, e pode ser fantasia. Ou uma peça a mais no quebra-cabeça. Gentili, evidentemente, não é Hitler, mas se vê como o tratamento adequado para acabar com a moléstia esquerdista. Mãe é mãe.