Comparar Lula a Bolsonaro é como equiparar Obama a Trump. Por Ricardo Kotscho

Atualizado em 22 de novembro de 2019 às 13:04
Lula. Foto: Reprodução

Publicado originalmente no Balaio do Kotscho:

POR RICARDO KOTSCHO

Em marcha batida a caminho da irrelevância, a capa revista Veja desta semana com o título “A era dos extremos” desfralda novamente a bandeira da “terceira via” para enfrentar a “polarização entre Lula e Bolsonaro”.

Nada de novo. Já fizeram a mesma coisa na campanha eleitoral do ano passado em busca de um “candidato competitivo” para enfrentar “os dois extremos”.

Sem encontrá-lo, já que todos foram ficando pelo caminho, embarcaram na aventura bolsonarista para derrotar o PT.

Deu no que deu.

A libertação de Lula, há uma semana, deixou tão irados os defensores do “centro” (leia-se tucanos, centrões e adjacências) que eles perderam qualquer racionalidade nos seus argumentos para combater o líder petista.

Outra vez sem candidato eleitoralmente viável, investem em “novos nomes” como Doria, Huck, Moro e até Amoêdo (quem?), sabendo que eles todos juntos não têm a menor chance de chegar a um segundo turno.

Colocar Lula e Bolsonaro juntos no mesmo balaio de extremos, como se fossem duas faces da mesma moeda, é algo tão cretino e irreal como querer equiparar Obama a Trump e responsabilizar o estadista democrata pela eleição do fanfarrão republicano.

Não há como comparar os “dois extremos” em nenhum campo, sob nenhum aspecto, correndo o risco de cair no ridículo.

Para começar, Lula nunca foi de extrema esquerda e fundou um partido popular vindo das bases, ao contrário de Bolsonaro, que está criando de cima para baixo um partido para a extrema-direita furiosa nos moldes da Arena, o partido da ditadura militar.

“Lula e Bolsonaro não são equivalentes. O populismo de Bolsonaro é excludente e anti-democrático, e o de Lula constrói um “povo” inclusivo e democrático”, ensina o economista e professor Thomás de Barros, doutorando em Teoria Política e Psicanálise na Sciences Po Paris.

Vale a pena ler a entrevista que Barros concedeu hoje ao Estadão para entender melhor essas diferenças fundamentais.

Opostos em tudo, basta lembrar um abismo que existe entre os dois: enquanto Lula defende a democracia e os direitos humanos, Bolsonaro é um defensor da ditadura e da tortura.

Obama e Lula são dois estadistas respeitados em todo o mundo, após oito anos de governos que combateram as desigualdades sociais.

Trump e Bolsonaro assustam o mundo com suas posições radicais, governam pelo Twitter e provocam conflitos em lugar de defender a paz.

Sei que não adianta escrever nada disso para quem vê a política como um instrumento de guerra para combater os inimigos reais ou imaginários em clima de permanentes conspirações.

Mas é desonesto usar o espaço na velha ou nas novas mídias para mentir aos leitores e internautas em busca de audiência fácil, falseando a verdade factual.

Restam no Brasil meia dúzia de jornalistas que ainda vivem nos tempos da Guerra Fria e fazem do combate ao PT e a Lula um meio de vida, uma razão de existir.

É falsa essa polarização que estão criando criar entre “dois extremos”.

Só temos um extremo, o de Bolsonaro e, enquanto não encontrarem um candidato da “terceira via”, vão continuar batendo no melhor presidente brasileiro de todos os tempos, segundo todas as pesquisas.

Lula não vai entrar nessa dividida, por mais que provoquem.

Se alguém ainda tiver dúvidas, vá ao Recife ver o Festival Lula Livre, com a presença do próprio, hoje, no Recife.

Lá, vai encontrar um Brasil que luta para defender suas conquistas e resgatar as esperanças de viver em paz, com emprego, saúde, educação e comida na mesa.

Acima de tudo, luta para defender a liberdade reconquistada com muitos sacrifícios, depois de mais de duas décadas de ditadura.

O sol está voltando a brilhar, já dá para respirar melhor e deixar a tristeza de lado.

Bom domingo, bom almoço.

Vida que segue.