
“Distorcida e politicamente motivada”.
Assim o embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, descreveu a carta em que 28 parlamentares dos EUA, entre eles o senador Bernie Sanders, criticam a prisão de Lula e a condução do caso Marielle Franco.
A missiva denuncia a “intensificação do ataque à democracia e aos direitos humanos no Brasil”, as “acusações não comprovadas” contra o ex-presidente e o julgamento “altamente questionável e politizado”.
Amaral teve um piti. “Fiquei atônito”, disse à Folha.
Repetiu o manjado mantra de que as instituições estão funcionando.
As decisões concernentes à detenção de Lula “obedeceram totalmente ao devido processo legal e foram confirmadas por cortes superiores”.
“A Constituição vem sendo inteiramente respeitada em todos os níveis do governo”, garante.
Há um “compromisso inabalável da sociedade e do governo brasileiros com a democracia e a proteção dos direitos humanos”.
A gestão de Michel Temer tenta fortalecer o Bolsa Família, mas, “sem responsabilidade fiscal, a responsabilidade social é uma promessa vazia”.
Ninguém vai levar Amaral a sério, mas chama a atenção sua falta de noção de que está num Titanic.
Amaral foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil entre 2001 e 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Antes disso, atuou como secretário de Comunicação Social e porta-voz de FHC.
A história é repleta de embaixadores divorciados da realidade.
Talvez o mais emblemático seja o americano Graham Martin, destacado para Saigon, no Vietnã, em 1973.
Em 1975, Martin ignorou os relatórios de inteligência avisando que os vietcongues estavam conquistando as capitais provinciais do Sul.
Recusou-se a reconhecer a derrota até o fim.
Seus atrasos em dar início a uma operação de evacuação custaram milhares de vidas. Uma árvore no pátio da embaixada, que deveria dar espaço para helicópteros de resgate pousarem, só foi derrubada quando era tarde demais.
Martin foi enfiado num helicóptero à força.
Ele não sabia, mas a tripulação tinha ordens para prendê-lo e trazê-lo a bordo se insistisse em sua fantasia.
“You are not alone, Sérgio”, cantaria o patético Martin.