Comunista Jeannette Jara e ultradireitista Kast disputarão a presidência do Chile

Atualizado em 16 de novembro de 2025 às 21:32
Os candidatos na disputa pela Presidência do Chile José Antonio Kast e Jeannette Jara

Com 77% das urnas apuradas no Chile, a comunista Jeannette Jara, candidata do governo Gabriel Boric, ficou com 26,6%, abaixo do que previam as pesquisas. O ultradireitista José Antonio Kast veio logo atrás, com 24,1%, em um cenário que o coloca como favorito para vencer no segundo turno, já que as forças conservadoras obtiveram mais votos somadas.

A surpresa da eleição foi o populista de direita Franco Parisi, que alcançou 19,3% em sua terceira tentativa de chegar ao Palácio de La Moneda. Ele superou o libertário Johannes Kaiser (13,9%) e derrubou a candidatura tradicional de Evelyn Matthei, que terminou em quinto lugar com 12,7%, causando um revés expressivo à coalizão Chile Vamos.

O presidente Boric cumprimentou os dois finalistas e destacou a importância da disputa. As pesquisas já indicavam um segundo turno polarizado, previsto para 14 de dezembro. Embora Jara tenha liderado a primeira etapa, os votos combinados de Kast, Kaiser e Matthei somam 51%.

Presidente do Chile, Gabriel Boric. Foto: Marcelo Hernandez/Getty Images

Se incluídos os de Parisi, a direita e o campo antiesquerdista chegam a 70%, ainda que não exista garantia de transferência automática ao republicano. Para avançar, Jara terá de buscar apoio no centro e sinalizar mudanças, inclusive suspendendo sua militância no Partido Comunista, que enfrenta forte rejeição. Ajustes em sua equipe e acenos ao eleitorado moderado são esperados desde já.

Kast repete sua estratégia das eleições de 2021, quando venceu a primeira volta e perdeu o segundo turno para Boric. Agora, chega fortalecido: superou concorrentes à direita e já conta com os apoios de Kaiser e Matthei.

Seu programa combina linha dura em segurança pública, cortes drásticos no Estado, política econômica liberal e tolerância zero à migração irregular. Grande parte da direita tradicional tende a se alinhar com ele para barrar a ascensão da esquerda ao poder. Kast tenta captar o clima político: o Chile vive um ciclo pendular há duas décadas, alternando governos e rejeitando sistematicamente incumbentes.

Em 2025, os chilenos votaram com inscrição automática e voto obrigatório para escolher presidente, renovar toda a Câmara dos Deputados e quase metade do Senado. É um eleitorado volátil, que viu duas tentativas de nova Constituição fracassarem — uma escrita por uma convenção dominada pela esquerda, rejeitada em 2022, e outra elaborada por uma maioria ultraconservadora, rejeitada em 2023.

A desconfiança generalizada atinge partidos, Parlamento e governos, dificultando maiorias legislativas e aprofundando o sentimento de frustração. O próximo presidente receberá um país pressionado pelo avanço do crime organizado transnacional e por uma sociedade que alterna esperança e desencanto.