Conclave: cardeal brasileiro destaca seus 5 favoritos para suceder Francisco

Atualizado em 6 de maio de 2025 às 22:25
O arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno, caminhando, sério, sem olhar para a câmera
O arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno – Divulgação

O arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno, de 88 anos, participou das reuniões pré-conclave no Vaticano, em Roma, embora não tenha direito a voto por ter mais de 80 anos. Durante conversa no Colégio Pio Brasileiro, onde está hospedado, ele compartilhou suas impressões sobre os cardeais que mais se destacaram nas congregações gerais, etapa crucial na escolha do novo papa. Com informações do Estadão.

Cinco cardeais chamaram a atenção de dom Raymundo nas reuniões prévias ao conclave que tem início nesta quarta-feira (7):

  • Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano
  • Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha
  • Roberto Repole, arcebispo de Turim
  • Pierbattista Pizzaballa, patriarca de Jerusalém
  • Jean-Paul Vesco, cardeal-arcebispo de Argel (França)

Sobre o papel do futuro pontífice, dom Raymundo é claro:

“É a missão fundamental da igreja, como dizia o papa Paulo VI: ‘se a igreja não evangeliza, ela não tem razão de existir’. Então, esse é o primeiro trabalho, digamos, do papa. Depois, é claro que o papa, no mundo em que estamos vivendo hoje, de conflitos, de guerras, de polarizações, é sem dúvida nenhuma o construtor e promotor da paz.”

Apelo por paz global na véspera do conclave

Nesta terça-feira (6), os cardeais divulgaram uma carta com apelo por cessar-fogo imediato na Ucrânia e em Gaza, um dia após o governo de Israel anunciar nova ofensiva contra o Hamas. Dom Raymundo enfatiza:
“O papa será sempre aquele que vai testemunhar a paz no mundo de hoje, vai promover a paz, vai trabalhar pela construção da base pela convivência pacífica entre todos os povos.”

Outro tema recorrente nas congregações foi a defesa da sinodalidade — descentralização do governo da Igreja —, uma das marcas do papado de Francisco. “Justamente nas manifestações de todos os demais cardeais, entendeu? Durante as congregações gerais, caminhar na sinodalidade, caminhar juntos, porque formamos o povo de Deus”, pontuou.

Conclave pode durar até quatro dias, estima o cardeal

Questionado sobre a votação dos cardeais brasileiros, dom Raymundo preferiu não revelar detalhes, mas acredita que o processo não deve ultrapassar quatro dias.

“Os dois últimos foram até relativamente breves, né? O papa Bento XVI foi eleito no segundo dia, o papa Francisco, no terceiro dia. Creio que no máximo quatro dias, estou eu imaginando, que poderá durar esse conclave, entendeu? Não mais do que isso”, apontou.

Segundo ele, a familiaridade entre os cardeais é maior hoje: “Mesmo morando nos confins do mundo, como é o caso, por exemplo, de Timor Leste, ou o cardeal da Mongólia, ou lá na Oceania, os cardeais se conhecem. Uns mais, outros menos, mas se conhecem”.

Participação nas congregações ajuda no discernimento

Dom Raymundo detalhou como os debates acontecem: “Aqui apenas se aprofunda esse conhecimento através desse diálogo durante as congregações gerais. Como eu disse, num momento mais de silêncio, de oração, faz esse discernimento, diante de Deus, da própria consciência, para escolher aquele que melhor o convide no momento a Igreja ou o mundo”.

O cardeal destacou o aumento do número de adultos e jovens batizados na França e Bélgica. “O número de católicos de pessoas que buscam o batismo na Igreja Católica está crescendo. As notícias que eu tive agora nessa Páscoa da França foram mais 12 mil adultos que procuraram o batismo. E assim também na Bélgica”, explicou ele.

Sobre a possibilidade de um papa francês, ponderou: “Pode contribuir, claro que há um um espaço aí de liberdade muito grande. E há sempre uma surpresa no conclave. Isso acontece frequentemente”.

Praça de São Pedro vista de cima
Praça de São Pedro – Reprodução

Dom Raymundo revelou quem mais o impressionou:

“Diria que alguns chamam a atenção justamente pela sua capacidade, pela sua argumentação, pelo papel que desempenha na sua diocese. Vários chamaram a atenção, por exemplo, chama atenção o próprio cardeal Parolin, e cardeais aqui da Itália. Tem vários aí, né? Conhecidos, são grandes teólogos, um de Turim (Repole), um grande teólogo. O de Bolonha também é muito conhecido, o cardeal Zuppi. Tem até o patriarca de Jerusalém, o (Pierbattista) Pizzaballa, muito conhecido. Então, são vários que chamam a atenção”.

Também mencionou o cardeal francês de Argel: “O de Argel chamou a atenção também. Como as opções são várias, você pode ter sempre uma surpresa”.

Sem interferência política ou alianças no conclave

Dom Raymundo garantiu que o conclave é livre de pressões externas: “Não há interferência política, digamos assim, de fora do conclave, entende? Pode até aparecer alguma coisa nesse sentido na imprensa, nos meios de comunicação, mas para os cardeais não repercute de jeito nenhum”.

Ele também afirmou que os cardeais brasileiros não votam em bloco e que não há candidaturas explícitas.
“Não quero fazer propaganda. Vou deixar os candidatos bem livres”, prometeu.

Recordações da Capela Sistina e o peso do voto

Dom Raymundo participou do conclave de 2013, que elegeu o papa Francisco. Ele descreveu a experiência como marcante: “Você está ali dentro daquele quadro, né? O mural que está em frente é justamente o quadro de Michelangelo do Juízo Final. Você está ali diante daquele juízo que vai acontecer em cada um de nós no final da vida”.

E concluiu com uma reflexão: “Você vai ser julgado, né? Sobre esse seu voto também. O que está movendo o seu voto? São interesses, são simpatias? Ou é o bem da igreja, o bem da humanidade?”.

Fim do conclave e expectativa pelo novo papa

Mesmo sem participar da votação, dom Raymundo permanecerá em Roma até o fim do conclave e pretende acompanhar o anúncio do novo pontífice na Praça de São Pedro. “Vou para a praça também para ver a proclamação do protodiácono (que anunciará o novo papa após a saída da fumaça branca) e, depois, a aparição do papa”, adiantou ele.

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