Confissão de Bolsonaro sobre tornozeleira faz extrema-direita descartar Flávio; entenda

Atualizado em 23 de novembro de 2025 às 20:49
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, após receber visita da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro – Gabriela Bilo/Folhapress

A gravação divulgada neste sábado (22), em que Jair Bolsonaro (PL) admite ter usado uma solda de ferro para tentar abrir sua tornozeleira eletrônica, acendeu um alerta entre aliados e dirigentes de partidos de direita. De acordo com a Folha de S.Paulo, entre os bastidores, a avaliação é de que o vídeo é “desmoralizante” e deve causar prejuízo eleitoral ao bolsonarismo em 2025, abrindo espaço para nomes menos ligados ao ex-presidente.

Feito por uma servidora da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, o registro mostra Bolsonaro explicando as marcas de queimadura no equipamento. A tentativa de violação foi citada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao determinar a prisão preventiva do ex-presidente. Ao ser questionado sobre o que ocorreu, Bolsonaro respondeu: “Meti ferro quente, meti ferro quente aí… curiosidade”.

Entre os atingidos politicamente, o nome mais exposto é o do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Considerado até então uma possível alternativa presidencial, ele sai do episódio fragilizado – especialmente por ter convocado uma vigília em frente ao condomínio do pai, interpretada pela PF como possível parte de uma estratégia de fuga. Para aliados, essa ligação direta com o episódio da tornozeleira o coloca em posição mais vulnerável na corrida eleitoral.

“Se é que é verdade que houve uma tentativa, alguém mexeu, algum problema com a tornozeleira eletrônica do Bolsonaro, (foi) à meia-noite e oito de hoje, sábado. E a vigília que eu coloquei foi para as 19h de hoje. Tem algum sentido manipular a tornozeleira e esperar até as 19h para depois tentar fugir?”, tentou justificar Flávio, negando ter ajudado seu pai a realizar uma tentativa de fuga, e dizendo que seria “humanamente impossível” Bolsonaro fugir com “todo aparato” que Moraes colocou para cercar a casa de Bolsonaro. “Há policiais na porta da casa dele 24 horas por dia, câmeras de segurança apontadas para a rua 24 horas por dia, policiais filmando 24 horas por dia quem entra e quem sai, inspeção todo dia dentro da casa.”

Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), ex-ministro de Bolsonaro, também deve enfrentar questionamentos sobre o comportamento do padrinho político. Em contraste, o governador Ratinho Júnior (PSD-PR), embora aliado, é visto como “menos contaminado”, por não ter integrado o governo Bolsonaro e manter maior distância pública.

Dirigentes de direita também veem fortalecimento de Alexandre de Moraes. O vídeo da tornozeleira criou, dizem, uma “imagem incontornável” de infração do ex-presidente, o que aumenta o peso do ministro na condução dos próximos passos do processo.

Com o prazo para novos recursos no julgamento da tentativa de golpe se encerrando na segunda-feira (24), integrantes do STF afirmam que Moraes pode determinar já na terça (25) o início do cumprimento da pena, caso entenda que uma nova rodada de recursos teria caráter meramente protelatório.

Sofia Carnavalli
Sofia Carnavalli é jornalista formada pela Cásper Líbero e colaboradora do DCM desde 2024.