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A PM de São Paulo não faz nada quando o protesto é contra Dilma. Por Mauro Donato

 

Sessenta pessoas interromperam a Marginal Pinheiros das 8:00 às 14:20.

O impacto no trânsito atingiu as avenidas Bandeirantes, Morumbi, João Dias, Giovanni Gronchi, Rebouças e Eusébio Matoso. Só na Marginal Tietê o reflexo causou um congestionamento que chegou a 10,5 km.

O tema? ‘Fora Dilma’ e ‘Intervenção Militar Constitucional’.

Isso ocorreu ontem (dia 27) e nenhum estardalhaço em torno do assunto, nenhum apresentador de telejornal tendo chilique pelo reflexo no trânsito, nenhuma briga no bar a respeito de terem ou não comunicado previamente a manifestação, nem discursos inflamados de secretários e sub-secretários das mais diversas pastas.

De acordo com a PM, o protesto foi pacífico e ninguém foi detido. Por que será?

Revisando: 60 pessoas, Marginal Pinheiros, das 8:00 às 14:20!!

Já imaginou o que aconteceria se o Movimento Passe Livre fechasse alguma das marginais durante mais seis horas?

Por que os manifestantes de ontem podem interromper uma das principais artérias da cidade sem o menor risco de receberem violenta repressão enquanto outros não têm esse direito?

Os estudantes secundaristas que no ano passado ocuparam as escolas promoviam atos em cruzamentos de avenidas da capital. Em menos de 15 minutos eram dispersados (eufemismo para atacados) sob bombas e até soco na cara.

A PM não tem um padrão então? Atua conforme a simpatia pelo protesto?

“Mas não tinha vândalos, não tinha mascarados, não tinha black bloc. Foi pacífico.” Pediam intervenção militar e eram pacíficos?

A intensificação dos debates de cunho político favorecida pelas redes sociais tem se dado no campo exclusivo do conteúdo da manifestação e sua subsequente avaliação. ‘É justa’, ‘não é’, ‘tem pauta legítima’, ‘não representa ninguém’.

Julgam o conteúdo e cerram os olhos para o aparato que se constrói ao redor. Quando não se concorda com a reivindicação fecha-se os olhos para a repressão. Sejam comentaristas de esquerda ou de direita. Péssimo sintoma.

As autoridades policiais tiram partido disso e atuam de maneira semelhante. Agem com o índice de audiência na mão e não com o manual de procedimentos. Cercam, espremem e aniquilam determinados protestos e cruzam os braços em outros. Isso não é um ambiente democrático e muito menos estável.

O direito a livre manifestação está previsto na Constituição Federal, concorde-se com a pauta ou não. Então ato coxa pode? Claro que pode, todo mundo pode protestar pelo que quiser. Mas todo mundo é todo mundo, ok? Não é para atacar e criminalizar uns e dar tapinha no ombro de outros.

Da maneira como a manifestação de ontem foi conduzida (e tantas outras anteriores) não é nenhum equívoco deduzir que protestar contra o governo federal está liberado.

 

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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