“Congresso da mamata”: campanha reacende a luta dos 99% contra o 1% usando IA

Atualizado em 4 de julho de 2025 às 16:47
Hugo Nem se Importa, o retrato escarrado de Hugo Motta

A campanha bem-sucedida que expôs Hugo “Nem se Importa” Motta e o Congresso como representantes da plutocracia nacional deve muito ao histórico movimento “Nós Somos os 99%”, derivação do “Ocupe Wall Street”, que marcaram época e deram voz a milhões de pessoas em todo o mundo no início dos anos 2010.

O conceito ecoa até hoje com sua crítica contundente ao sistema econômico e à concentração de poder nas mãos de uma elite dominante. Um grito contra a desigualdade.

As peças geradas com IA, como as produzidas pelo Veo 3, do Google, viralizaram em redes sociais com um poder de mobilização fulgurante. O fenômeno representa uma revolução na forma como as mensagens políticas são disseminadas e recebidas, especialmente quando consideramos que, até recentemente, esse tipo de conteúdo era associado à extrema-direita.

O movimento “Nós Somos os 99%”, que começou com um pequeno grupo de manifestantes no coração financeiro de Nova York, rapidamente se espalhou pelo mundo até se tornar uma das expressões mais reconhecíveis do mal-estar social contra as disparidades econômicas.

A denúncia da desigualdade foi poderosa o suficiente para provocar discussões em esferas políticas globais. A demanda por maior justiça econômica e tributária, maior equidade na distribuição de recursos e a crítica ao capitalismo tornou-se uma pauta fundamental que persiste muito depois da dispersão das ocupações.

Os slogans do movimento ainda reverberam, especialmente com as crescentes discussões sobre a taxação de grandes fortunas e a luta contra as corporações que controlam vastas porções da economia global. O chilique dos suspeitos de sempre com o aumento do IOF é sintomático. O Jornal Nacional de quinta, 3, foi um sessão de histeria milionária de 7 minutos.

O DCM cobriu intensamente os protestos do “Nós Somos os 99%” em Londres, quando meu irmão Paulo Nogueira morava lá. “Uma das principais lições, logo se viu, é que nas sociedades harmoniosas como as nórdicas os ricos não se dedicam a escapar de impostos. Antes, sabem que sua contribuição é essencial para que reine a concórdia”, escreveu o Paulo em 2012.

Um ano depois, as barracas do Ocupe Wall Street e de tantos outros movimentos similares sumiram. Mas o que era mais importante ficou: a idéia de que é inaceitável que a humanidade se divida entre 99% e 1%. Não é pouco.”

O uso da IA para espalhar a necessidade de travar a velha e boa luta de classes representa uma oportunidade de ouro para a esquerda reescrever sua narrativa, alcançar novos públicos e falar, inclusive, com a classe média que se achava perdida para o bolsonarismo. Temos uma bandeira.

O “Nós Somos os 99%” pode não ter tido o impacto imediato, mas seu legado sobrevive, presente em uma geração de ativistas e pensadores que, agora, utilizam as ferramentas digitais para engajar a sociedade numa batalha para fazer o 1% pagar a conta para sermos minimanente decentes.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.