Destaques

Congresso vai deixar Bolsonaro falando sozinho. Por Helena Chagas

 Foto: Alan Santos PR

Publicado originalmente no Divergentes

Por Helena Chagas

Nunca antes neste país o que um presidente da República diz tem sido tratado com a irrelevância com que a elite do Congresso vem encarando as mais recentes declarações de Jair Bolsonaro. Depois de negar o acordo que fez sobre o orçamento impositivo, chantagear o Legislativo com a convocação das manifestações de domingo para que não vote o projeto que ele mesmo enviou, minimizar a crise das bolsas e dizer que se inventa muito na crise do coronavírus, não há mais a mínima chance de as afirmações do presidente serem levadas a sério, sequer consideradas.

Com doido não se discute. É o que se ouve nos mais importantes gabinetes da Câmara e do Senado, cujos ocupantes resolveram não mais bater boca com o chefe do Executivo, trocando notas e afirmações na linha do bateu-levou. Se bater, vai levar, mas por outros meios.

Por exemplo: os líderes do Centrão dividiram-se quanto à conveniência de votar ou não esta semana os projetos de lei do orçamento enviados pelo Executivo que completavam o acordo que assegurou a manutenção dos vetos presidenciais. No meio do caminho, Bolsonaro mais uma vez atropelou o acordo, acenando com o esvaziamento dos protestos dos bolsominions dia 15 se deputados e senadores se abstiverem de votar o PLN que sacramenta a divisão dos RS 30 bilhões em disputa entre o Planalto e o Congresso.

A maioria dos dirigentes do Legislativo parece não ter caído nesse conto do vigário. A rigor, porém, tanto faz como tanto fez. Os parlamentares podem deixar para semana que vem, após os protestos, para evitar acirrar os ânimos. Mas têm recebido informações de que a organização das manifestações não anda lá tão confiante assim de que será um sucesso retumbante. Talvez por isso – alertado para o possível desgaste de uma manifestação esvaziada – Bolsonaro esteja propondo negociar a desconvocação.

Só que ninguém mais acredita no que Bolsonaro diz, quanto mais do que faz. O desgaste do presidente junto aos políticos aprofundou-se ainda mais – se é que era possível – esta semana com sua reação quase alienada à maior crise da bolsa nos últimos 20 anos. Bolsonaro vem se aperfeiçoando tanto em seu aparente propósito de se tornar politicamente irrelevante que as demais forças políticas e institucionais resolveram tocar a vida sem ele.

O problema é: dá para atravessar mais dois anos e nove meses deixando o presidente da República falar sozinho?

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

Nos EUA, congressistas brasileiros encontram deputado que investigou Trump

Congressistas brasileiros e norte-americanos estão prestes a divulgar um manifesto conjunto em defesa da democracia.…

5 horas ago

Governador do RS diz que Porto Alegre terá enchente jamais vista

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), em uma transmissão ao vivo…

5 horas ago

Ao CNJ, Gabriela Hardt admite erro em caso da Lava Jato e critica sucessor de Moro

Gabriela Hardt, conhecida por seu papel como juíza substituta nos casos da Lava-Jato no Paraná,…

6 horas ago

Filhos do fundador das Casas Bahia brigam na justiça pela herança do pai

A disputa pela herança de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, atingiu um novo patamar…

7 horas ago

Ação contra ex faz juíza dos EUA se irritar com Valdemar e pedir sua presença no país

Nesta quinta-feira (2), uma audiência judicial virtual nos Estados Unidos envolvendo um processo movido pelo…

7 horas ago

Essencial: Lula envia R$ 55 milhões ao RS; Bruno Paes Manso fala ao DCM sobre ligações de prefeituras com o PCC

https://www.youtube.com/watch?v=4KyxpJKiyLo Professor Viaro faz o giro de notícias e entrevista os escritores Bruno Paes Manso…

8 horas ago