
Mesmo diante de resistências de aliados próximos e de lideranças do Centrão, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) formalizou, por meio de uma carta escrita à mão, a indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato à Presidência da República em 2026. A mensagem foi lida pelo próprio primogênito na manhã de quinta-feira (25), na porta do Hospital DF Star, em Brasília, pouco antes de Bolsonaro ser submetido a uma cirurgia para corrigir uma hérnia inguinal bilateral.
No texto, o ex-presidente afirma que a escolha do filho é “consciente e legítima” e associa a decisão à continuidade de seu projeto político. A carta foi divulgada em um momento sensível, com Bolsonaro hospitalizado e ainda em recuperação de problemas de saúde, o que ampliou a repercussão política do gesto.
“Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho para a missão de resgatar o nosso Brasil. Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim”, escreveu Bolsonaro.
Após a leitura do texto, Flávio afirmou que a manifestação pública do pai encerra dúvidas sobre sua pré-candidatura. “Como muitas pessoas dizem que não ouviram da boca dele, acho que isso aqui retira qualquer sombra de dúvida. Para mim não muda nada, mas para quem ainda não estava acreditando pode ser que mude”, disse o senador.
Ele também cobrou unidade do campo conservador. “Espero que a gente se una. Temos que buscar neste momento a unidade para alcançar esse objetivo comum”, declarou, afirmando que pretende “evitar que o PT destrua o país”.
FLÁVIO BOLSONARO LÊ A CARTA ESCRITA PELO PAI, JAIR MESSIAS BOLSONARO: “Ao longo da minha vida tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto, com minha saúde e família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil.
Diante desse cenário de injustiça… pic.twitter.com/VFxlfckrVy— Pri (@Pri_usabr1) December 25, 2025
A cirurgia do ex-presidente durou cerca de três horas e meia e, segundo a equipe médica, transcorreu sem intercorrências. A previsão é de cinco a sete dias de recuperação, ainda sem data definida para alta. A leitura da carta antecipou o anúncio que Bolsonaro poderia fazer em uma entrevista ao portal Metrópoles, cancelada dias antes sob a alegação de questões de saúde.
Apesar da chancela formal, a indicação de Flávio não pacificou o campo da direita. O senador vinha sendo alvo de críticas de aliados do pai, como o pastor Silas Malafaia, que declarou que ele não teria “musculatura política” para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição. Malafaia defendia uma chapa liderada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como vice.
O presidente do PP, Ciro Nogueira, também demonstrou cautela. Segundo ele, política “não se faz só com amizade”, mas “com pesquisas, viabilidade e ouvindo os partidos aliados”.
A escolha por Flávio gerou ainda resistências dentro da própria família Bolsonaro, especialmente de Michelle, que chegou a cogitar uma candidatura presidencial. Na véspera da cirurgia, ela publicou um pedido de orações pelo marido e permaneceu ao seu lado no hospital.
O vereador Carlos Bolsonaro, que acompanhou o pai durante a internação, afirmou que os médicos ainda avaliam a necessidade de novos procedimentos “em razão dos soluços persistentes”. Ele também criticou o esquema de segurança no hospital. “O número de policiais mobilizados para acompanhar o procedimento e toda a movimentação ultrapassa qualquer limite que qualquer ser humano consideraria razoável — é algo absolutamente inacreditável e constrangedor”, escreveu.
De acordo com o cirurgião Cláudio Birolini, Bolsonaro não precisou ser encaminhado à UTI e segue se comunicando normalmente. A internação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes após perícia da Polícia Federal. Os médicos avaliam, nos próximos dias, se será necessário um novo procedimento para bloqueio do nervo frênico, caso os soluços persistam.
Confira a carta na íntegra:
Carta aos Brasileiros
Ao longo da minha vida, tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto na minha saúde e minha família para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil.
Diante desse um cenário de injustiça e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar o Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República em 2026.
Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para a missão de resgatar o nosso Brasil. Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim.
Ele é a continuidade do caminho da prosperidade que iniciei muito antes de ser presidente. Pois acredito que o Brasil precisamos retomar a responsabilidade de ser conduzir o Brasil com justiça, firmeza e lealdade aos anseios do povo brasileiro.
Que Deus o abençoe e o capacite na liderança dessa corrente de milhões de brasileiros que honram a Deus, a pátria, a família e a liberdade.
Brasília, 25 de dezembro de 2025.
Jair Messias Bolsonaro
