
O Conselho Norueguês da Paz anunciou nesta sexta-feira (25) que não realizará neste ano a tradicional procissão com tochas em Oslo, evento que celebra o Prêmio Nobel da Paz, em protesto contra a escolha da venezuelana ultraliberal María Corina Machado como vencedora da edição de 2025.
A decisão reflete o desacordo da entidade com a politização da premiação e marca uma ruptura inédita na tradição mantida desde meados do século XX.
A procissão anual, que costuma reunir milhares de pessoas nas ruas de Oslo em homenagem à paz e à solidariedade entre os povos, foi suspensa pela primeira vez em mais de 70 anos.
Segundo o Conselho, composto por 17 organizações independentes, a medida expressa o descontentamento com a escolha da opositora venezuelana, considerada por setores pacifistas como contrária aos valores de diálogo e não violência.
“Esta é uma decisão difícil, mas necessária”, declarou Eline H. Lorentzen, presidente do Conselho. A dirigente explicou que o grupo “não sente que a ganhadora deste ano esteja em conformidade com os valores fundamentais do Conselho Norueguês da Paz ou de seus integrantes”.
Críticas à escolha e defesa de princípios
Em nota oficial, o Conselho reiterou que, embora respeite o Comitê do Nobel e sua autonomia, não poderia ignorar seus próprios princípios.
“Temos grande respeito pelo Comitê do Nobel e pelo Prêmio Nobel da Paz como instituição, mas, como organização, também devemos ser fiéis aos nossos próprios princípios e ao amplo movimento pela paz que representamos. Esperamos poder celebrar o prêmio novamente nos próximos anos”, afirmou Lorentzen.
Em entrevista ao jornal norueguês VG, a presidente reforçou que “alguns métodos e posturas de María Corina Machado não estão em consonância com nossos princípios e valores, nem com os das organizações que integram o Conselho, como o incentivo ao diálogo e aos métodos não violentos”.
Decisão não afeta o prêmio
A suspensão da cerimônia simbólica não altera a escolha oficial do Comitê Norueguês do Nobel, responsável pela nomeação de Machado.
A opositora venezuelana foi anunciada vencedora em 10 de outubro, em reconhecimento ao seu “trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e na luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
Inabilitada pela Justiça venezuelana para exercer cargos públicos por 15 anos, Machado foi acusada de “inconsistência e ocultação” de bens em declaração patrimonial à Controladoria-Geral da República. A punição foi anunciada em junho de 2023, após um processo iniciado em 2015.
A ex-deputada é uma das principais líderes da oposição e já se envolveu em tentativas de golpe, pedidos de sanções e apoios a intervenções estrangeiras contra o governo venezuelano.


