Considerar Moro um ‘golaço’, como a senadora Ana Amélia, é validar gol feito com a mão. Por Donato

Atualizado em 2 de novembro de 2018 às 12:10

Ana Amélia, a candidata a vice de Geraldo Alckmin (aquela que quadruplicou o patrimônio em 8 anos) e tantos outros trataram como ‘golaço’ a nomeação de Moro. 

Para quem quiser considerar um gol feito com a mão, em posição de impedimento, anotado por um jogador que estava escalado irregularmente e que cometeu uma falta antes do lance ao empurrar o adversário, tudo bem.

Sergio Moro é o perfeito retrato do que estamos vivenciando. Reverencia-se alguém com arroubos de vaidade e autoritarismo, que manda prender coercitivamente sem necessidade, que divulga áudios de forma ilegal, que interrompe suas férias em pleno domingo para impedir a soltura de seu ‘adversário’, que atua estrategicamente no cronograma do ‘vazamento’ de delações.

Nessa analogia com futebol é como considerar craque alguém que jogue com a sola dos pés.

Moro é um estrategista ambicioso de mão cheia, que joga sujo e deu mais um passo em direção a seu objetivo maior. 

Muito antes do capitão reformado aparecer como uma possibilidade no horizonte, ainda lá nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff duas camisetas eram vistas com frequência: uma de Sergio Moro como super-herói e outra que lançava-o como candidato à presidente.

Considerar a hipótese era tido como um despautério entre meus semelhantes. Não firmei o pé na teoria, mesmo porque estávamos em meio a um furacão e mesmo o nome de Jair Bolsonaro não suscitava até então nada além de risadas.

Agora, a depender do desempenho de Moro no governo bozolino – que em termos de direitos humanos e liberdades individuais poderá ser pior que péssimo, mas que a propaganda à la Goebbels cuidará de transformar arbitrariedades e irregularidades em algo positivo – Moro passa a ser um nome forte para 2022.

Será necessário que ele rompa com o capitão, que igualmente buscará a reeleição (se é que ainda existirão eleições), mas Moro não é mais um palpite desvairado. 

Afinal, se como mero juiz de primeira instância ele passou por cima de tantas leis e de tanta gente, imagine-se o Mazzaropi como o todo poderoso de uma pasta que se apresenta toda poderosa.

Há cerca de um ano, o juiz declarou o seguinte: “Não seria apropriado da minha parte postular qualquer espécie de cargo político”. De fato não seria, não é, e continua não sendo. Mas alguém ainda duvida que a retórica de Moro é pura falsidade?

Inicialmente alinhado e estimulado por Bolsonaro, Sergio Moro vai passar feito um trator por cima dos “inimigos vermelhos” que irão “sofrer a lei no lombo”. Prova inequívoca de que a dobradinha Bolsomoro tem alvo específico foi a declaração dada pelo presidente eleito logo em seguida ao aceite de Moro para o cargo: “Se o PT não gostou é porque fiz a coisa certa”. 

Estando o magistrado à frente de um superministério que irá abranger Segurança Pública, os movimentos sociais também estarão em sério risco. Tipificá-los como terroristas é algo prioritário nas propostas do próximo governo. Então Moro terá caminho livre de opositores e críticos.

Para quem pensava que o pesadelo poderia durar apenas 4 anos, melhor se lembrar de 2014 e recapitular toda a atuação de Moro desde então. Seu trabalho foi de formiguinha. 

Ele agora chegou exatamente onde queria e estará em posição privilegiada: Se o governo Bolsonaro for bem, ele receberá muitos louros; Se naufragar, ele se desvencilhará antes e permanecerá como a salvação. 

Classifiquem Moro do que quiserem, mas burro ele não é.